Pesquisadores da University of Newscastle, na Austrália, encontraram marcadores biológicos em exames de sangue de rotina que os ligam a problemas de saúde mental. Os dados vêm de estudos genéticos, bioquímicos e psiquiátricos de mais de um milhão de pessoas. Segundo os cientistas, isso irá aumentar nosso entendimento sobre as causas de doenças mentais e pode ajudar a desenvolver novos tratamentos.
A pesquisa reforça o fato de que a saúde mental está ligada com a saúde do restante do corpo, o que já podemos observar nas substâncias bioquímicas envolvidas em doenças como diabetes e condições autoimunes cujo impacto no funcionamento do cérebro é direto. Estudos que buscam entender esse tipo de relação focam em biomarcadores, este mais recente foi publicado na revista científica Science Advances na última quarta-feira (6).
Mente sã, corpo são
Os biomarcadores, como o nome indica, são elementos no corpo que dão sinais biológicos de que algo em particular no corpo, tanto doenças quanto processos saudáveis, estão acontecendo. Eles podem ser encontrados em exames de sangue na forma de índices de colesterol, enzimas do fígado e vitaminas, por exemplo. Elementos que afetam esses marcadores podem ser dietas, estilo de vida ou tratamentos medicamentosos.
Quando se fala de saúde mental, é difícil relacioná-las com biomarcadores porque ainda não há grandes estudos na área. A saída dos pesquisadores australianos foi examinar influências genéticas mensuráveis no sangue de voluntários — e os dados são muitos, chegando na casa dos milhões de pessoas. O problema é que doenças mentais e biomarcadores sanguíneos são características complexas, ou características quantitativas, que envolvem muitos genes e fatores ambientais.
O volume dos dados permitiu a análise de pequenas mudanças na sequência de DNA dos sujeitos (chamadas “variantes”) e sua relação com problemas de saúde mental. Essas mesmas variantes foram, então, comparadas com níveis de biomarcadores sanguíneos específicos. Uma variante em um gene, por exemplo, pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia e, ao mesmo tempo, estar ligada à diminuição nos níveis de uma vitamina em particular no sangue.
Correlação nos achados
Investigando nove problemas de saúde mental e 50 fatores detectáveis em exames de sangue, os pesquisadores encontraram uma correlação genética entre eles de forma mais generalizada do que se pensava. Isso quer dizer que mudanças no risco de desenvolver doenças do tipo e níveis de um biomarcador eram similares entre si o suficiente para não ser produto do acaso. Uma dessas correlações é entre o nível de glóbulos brancos e depressão.
Isso não quer dizer, no entanto, que exista causalidade entre esses marcadores. Em outras palavras, não é porque há menos glóbulos brancos no sangue que você poderá desenvolver depressão: algo externo pode estar afetando ambos esses indicadores. Para distinguir esse tipo de relação, são necessários testes clínicos randomizados, onde pacientes recebem tratamento ou placebo de forma aleatória.
Na falta de financiamento para um teste dessa magnitude, os pesquisadores utilizaram os dados de variantes de DNA ligados aos biomarcadores para fazer um “teste clínico natural”. Já que herdamos DNA de nossos pais de forma aleatória, isso pode ser usado como uma forma de “tratamento ou placebo” natural. Com isso, foram achadas evidências de correlações como proteínas do sistema imune ligadas à depressão, esquizofrenia e anorexia.
William Reay, autor principal do estudo, afirma que mais estudos são necessários para entender o que precisamente liga os problemas de saúde mental aos exames de sangue, e, principalmente, descobrir se isso pode ser usado como alvo para tratamentos. Ele lembra que o método é complexo e os resultados precisam de cuidado na hora de serem interpretados.
Fonte: Canal Tech