Quase todo mundo ronca uma vez ou outra na vida. E existem muitas causas para o ronco, embora geralmente elas não sejam graves. Ruído, porém, pode ser sinal de alerta para apneia do sono, síndrome que interrompe a respiração por alguns segundos.
“Roooo!”: você ronca? Alguém reclama que você ronca? Você sente que está bastante cansado ao longo do dia, irritado ou que não teve um sono reparador?
Se você é um roncador, com certeza respondeu “sim” a algumas dessas perguntas. E não fique espantado ou achando que está sozinho, pois, no Brasil, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira do Sono, 40% da população adulta sofre com o ruidinho ou ruidão, em alguns casos.
Mas o que de fato provoca esse som tão característico (e irritante) no nosso corpo? Ele pode ser um sintoma de algo mais grave que está acontecendo com a gente? E quem é mais propenso ao ronco: o homem ou a mulher? Veja abaixo:
1. O que é o ronco?
O ronco é causado pelo barulho da vibração dos músculos das nossas vias aéreas, as estruturas responsáveis por levar o ar que respiramos até os nossos pulmões.
Normalmente, durante o sono, músculos como a língua, o “sininho” da garganta (úvula) e a parte de trás do céu da boca (palato mole) tendem a relaxar e se expandir, estreitando as vias aéreas.
“Esses são músculos de uma região da garganta onde não temos estruturas capazes de manter a via aérea firme. Então, são estruturas que podem movimentar e se balançar”, explica Sandra Doria, otorrinolaringologista do Instituto do Sono.
O ronco surge, então, com o relaxamento excessivo desses tecidos, que pode ser ocasionado por fatores como a idade, consumo de álcool ou o uso de medicamentos (entenda mais abaixo).
Com esse estreitamento fora do normal da nossa musculatura, é natural que o ar encontre uma certa dificuldade para passar e, desse modo, vibre esses tecidos durante seu percurso até os nossos pulmões. Assim, aquele som característico do ronco é justamente o barulho provocado por essa vibração.
2. Roncar é normal?
Quase todo mundo ronca uma vez ou outra na vida. E existem muitas causas para o ronco, embora, geralmente, não sejam graves.
Apesar disso, roncar pode ser, sim, um indicativo de algum problema, pois a vibração dos tecidos das vias aéreas não é algo normal.
“Do ponto de vista clínico, o ronco é visto como uma obstrução parcial da via aérea, e isso nunca é considerado normal”, diz Alan Luiz Eckeli, professor de neurologia e medicina do sono na FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).
Ainda que o ronco seja mais comum do que imaginamos (no Brasil, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira do Sono, 40% da população adulta sofre com o ronco), algumas condições de saúde e determinados fatores físicos e genéticos aumentam a sua probabilidade.
Por isso, se o ronco estiver incomodando você ou seu parceiro(a), é importante procurar ajuda médica para entender melhor o seu quadro.
3. Por que o ronco pode indicar algo grave?
Um ronco alto e prolongado (crônico) pode ser sintoma de um distúrbio do sono grave chamado de Apneia Obstrutiva do Sono.
A apneia é a causa mais grave do ronco. Ela ocorre quando as nossas vias aéreas se estreitam num ponto que chegam a ficar bloqueadas, interrompendo a respiração por alguns segundos.
Mas atenção: nem sempre a altura do ronco determina a gravidade dos quadros.
Muitas vezes, a gente acha que quanto pior o ronco, pior o risco. Mas nem sempre é assim, justamente por causa da apneia. Uma pessoa que tem a síndrome, por exemplo, colaba [fecha, colapsa] tanto a via aérea que não ronca, por causa da ausência de fluxo de ar. Então, nem sempre o pior roncador é aquele que ronca demais.
Por levar a problemas de saúde mais sérios, a apneia do sono precisa ser tratada. (Entenda mais no item 7.)
4. O que pode, então, provocar o ronco?
A predisposição ao ronco aumenta se você é uma pessoa que:
- 🍔 está acima do peso ou é obesa. De modo geral, a gordura acumulada nas vias aéreas dificulta a passagem de ar;
- 🍹 bebe muito. O álcool relaxa as vias aéreas superiores, incluindo os músculos da parte de trás da garganta;
- 🛌 dorme de barriga para cima. Nessa posição, a gravidade estreita os tecidos ao redor das vias aéreas;
- 🚬 fuma. O cigarro inflama o tecido das vias. De acordo com a Associação Britânica de Ronco, até mesmo o fumo passivo pode causar essa inflamação, aumentando assim o risco de ronco;
- 💊 usa alguns medicamentos para dormir. Certas drogas relaxam os músculos da garganta e, consequentemente, estreitam a passagem de ar;
- 👃 tem desvio de septo. Nessa condição, a cavidade nasal fica mais estreita, favorecendo a obstrução das vias aéreas e as vibrações características do ronco;
- 😮 tem a mandíbula recuada. O retrognatismo favorece o estreitamento das vias pois influencia na posição de músculos como a língua;
- 👅 possui amígdalas, língua ou palato mole grandes. Situação semelhante ao exemplo acima. Com esses músculos maiores, a passagem de ar fica mais obstruída;
- 👴 tem mais de 60 anos. À medida que envelhecemos esses músculos também tendem a relaxar e se expandir.
5. E qual a relação do ronco com a gravidez?
Além de todos esses fatores que precisam ser investigados, também é comum que o ronco seja mais frequente durante a gravidez. Isso ocorre porque, como resultado de alterações hormonais (principalmente com a progesterona e o estrogênio), os tecidos nasais ficam mais obstruídos e inchados, como todo o corpo da gestante, favorecendo uma congestão nasal que pode levar ao ronco.
Em alguns casos, o ganho de peso durante a gravidez pode influenciar a ocorrência dos episódios.
A boa notícia para as mamães é que, nessas situações, o ronco tende a desaparecer logo após o nascimento do bebê ou até 8 meses depois, à medida que o corpo da mulher vai voltando ao normal.
Ainda segundo a Associação Britânica de Ronco, em torno de 23% das mulheres roncam durante a gravidez.
6. Quem é mais propenso ao ronco: o homem ou a mulher?
De modo geral, o ronco é mais comum entre os homens do que entre as mulheres. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira do Sono, cerca de 60% dos homens roncam. Nas mulheres, essa taxa é de 40%.
É verdade que o ronco pode afetar qualquer gênero, mas existem alguns fatores que nos ajudam a entender por que as mulheres são menos propensas a roncar.
Um deles é que os homens tendem a engordar mais na área do pescoço, o que leva a uma obstrução da passagem do ar na traqueia.
Aspectos sociais também influenciam essa discrepância, já que o consumo abusivo de álcool é mais comum no grupo masculino, por exemplo.
Apesar disso, é importante lembrar que nas mulheres o problema piora na menopausa, quando ocorre uma alteração hormonal no corpo que resulta numa maior predisposição ao ronco.
7. Quais outros problemas o ronco e a apneia podem causar?
Segundo o NHS, o serviço de saúde britânico, caso não tratada, a apneia do sono pode levar a diversos problemas de saúde, como:
- Pressão alta;
- Chance maior de infarto;
- Diabetes;
- Doenças do coração;
- Dificuldades de concentração;
- E até mesmo um risco maior de a pessoa se envolver em acidentes graves causados pelo cansaço, como batidas de carro.
8. Por que é importante falar com alguém sobre o ronco?
Justamente por ser um sintoma de um problema de saúde mais grave, é importante conversar com seu parceiro ou parceira sobre a situação.
Geralmente, um ronco ocasional não é motivo de alarde, mas quadros constantes, além de serem irritantes e impossibilitarem o sono de quem está ao lado, podem indicar que algo está errado.
9. Durmo sozinho. Como descobrir se eu ronco?
Quem dorme sozinho também pode descobrir se ronca seguindo alguns simples passos. A National Sleep Foundation recomenda os seguintes:
- 🔊 Leve um gravador para a cama e registre o seu sono. Lembre-se de gravar em diferentes dias, pois os episódios de ronco podem não ocorrer todas as noites.
- 📱 Alguns aplicativos para celular têm essa função específica de registro do sono. Eles também são úteis. Mas lembre-se: o diagnóstico de apneia somente é possível de ser feito pelo médico.
- 😴 Também é importante prestar atenção em alguns sinais indicativos do ronco e da apneia, como uma sonolência diurna constante, fadiga, alterações no humor e problemas de atenção.
10. Já entendi, estou mesmo roncando. E agora?
Mesmo que seu parceiro não se importe com seu ronco, vale a pena consultar um médico especialista em distúrbios do sono (como o otorrinolaringologista) sobre episódios frequentes.
Nos casos em que há suspeita de apneia do sono, o médico pode realizar exames para determinar o quadro.
Embora somente a polissonografia consiga fazer o diagnóstico da síndrome (entenda mais nas próximas reportagens da série que o g1 publica sobre o assunto), é importante estar atento aos seguintes sintomas:
- 😮💨 Se você percebe (ou costuma acordar após) paradas de respiração ao longo da noite;
- 😴📢 Se você faz ruídos ofegantes e sufocantes enquanto dorme;
- 🥱😠 E se você se sente bastante cansado, irritado e sonolento ao longo do dia.
Se você também encontrar alguém apresentando esses sinais de alerta, leve-o ao médico.