Melhora acontece depois de o IBGE divulgar números mais robustos de crescimento no segundo trimestre

O Ministério da Fazenda revisou nesta segunda-feira a projeção de crescimento para a economia este ano, de 2,5% para 3,2%. O dado consta no relatório Boletim Macrofiscal. A mudança vem depois de o IBGE divulgar, no início do mês, um crescimento mais forte do que o esperado no segundo trimestre, que subiu 0,9%, contra estimativas do mercado em torno de 0,3%.

Na visão do secretário de Política Econômica da pasta, Guilherme Mello, que concedeu entrevista coletiva para explicar o Boletim, há vários fatores impulsionando a atividade.

— A massa salarial está crescendo; o rendimento real (acima da inflação) está crescendo; há (perspectiva) de uma redução da inadimplência e maior acesso ao mercado de crédito; o cenário de crédito melhor tende a puxar o crescimento para cima — disse Mello, citando também que o governo está “otimista” com o último trimestre do ano.
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Há ainda um fator estatístico: como a economia cresceu fortemente no primeiro (1,8%) e no segundo (0,9%) trimestres, ela deixa o que os economistas chamam de “carrego estatístico”. Ou seja, ainda que fique estagnada no segundo semestre, já haveria um crescimento médio garantido em torno de 3%, em 2023, na comparação com o ano de 2022.

Para 2024, a projeção de crescimento do PIB foi mantida em 2,3%.

Em Nova York, onde participa de evento promovido pela CNI e pela Fiesp, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou as projeções do ministério de que o crescimento do PIB neste ano “vai ser superior a 3%”.

No evento, Haddad lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá reunião na próxima quarta-feira com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O ministro destacou que foi convidado para participar do encontro, classificado por ele como “uma oportunidade única” para mostrar os avanços do Brasil na área de sustentabilidade e, com isso, impulsionar o crescimento econômico.

Haddad também chamou atenção para a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no mesmo painel do evento desta segunda-feira. Com ambos dividindo o palco, Haddad afirmou que “o Brasil é um dos poucos países que podem colocar o ministro da Fazenda e a ministra do Meio Ambiente lado a lado falando a mesma língua e com o mesmo propósito”.

IPCA em 4,85%

Pelas projeções da Fazenda, a previsão para o IPCA deste ano se manteve em 4,85%. Para 2024, subiu de 3,3% para 3,4%. A piora para o ano que vem se deve a um aumento nas projeções para o dólar e para os preços das commodities.

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Por outro lado, para o ano que vem, a equipe econômica vê que a indústria e o setor de serviços devem ser beneficiados com a flexibilização das condições monetárias. Ou seja, com o ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic), iniciado em agosto.

Apesar da trajetória de queda da Selic ter iniciada, os efeitos são sentidos meses depois. É a chamada defasagem da política monetária, quando o impacto não ocorre imediatamente.

“O retorno dos gastos mínimos com educação e saúde também devem impulsionar o componente da Administração Pública. Pelo lado da demanda, essas políticas (de renegociação de dívidas) e programas (de transferência de renda) devem impactar positivamente o consumo das famílias”, disse o Boletim MacroFiscal.

A Fazenda ainda não tem um estudo finalizado para quantificar o efeito do programa de renegociação de dívidas batizado de Desenrola. Por ora, a equipe comandada por Mello está considerando um impacto potencial no setor de serviços, que foi revisado de 1,7% para 2,5% (veja abaixo as mudanças setoriais). Para este segundo semestre e para 2024, a pasta vê efeitos positivos na redução da inadimplência e estímulo ao consumo, no caso das pessoas que ficarem com o nome limpo.

Mercado ‘atrás da curva’

Guilherme Mello também avalia que, de forma positiva, as projeções dos agentes do mercado para o crescimento da economia brasileira têm ficado mais próximas das estimativas feitas pelo governo.

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O ministro Fernando Haddad vem ressaltando em conversas com jornalistas que o mercado começou o ano com uma estimativa de PIB muito baixa, enquanto a Fazenda já estaria com uma perspectiva mais otimista. O boletim Focus, por exemplo, começou o ano prevendo alta de 0,78% para a economia.

No boletim divulgado hoje pelo Banco Central, o mercado para 2,89% o número deste ano. Há um mês, a estimativa estava em 2,29%.

Ainda na coletiva desta segunda-feira, o secretário Guilherme Mello também mostrou otimismo com as projeções de receitas do governo para 2024. O mercado vê com desconfiança a meta de zerar o déficit nas contas públicas no ano que vem.

— O cenário para a arrecadação do ano que vem melhorou. O que significa que é possível que o nível de arrecadação no ano que vem seja maior do que previsto no orçamento. E que, portanto, o atingimento das metas fiscais seja até facilitado por essa mudança de cenário macroeconômica (inflação e PIB, por exemplo) que estamos observando — declara Mello.

Previsão por setores:
  • As projeções de crescimento melhoraram para os três grandes setores monitorados.
  • Para o setor agropecuário, a projeção foi revisada de 13,2% para 14,0%;
  • Para a indústria, o crescimento esperado avançou de 0,8% para 1,5%;
  • A projeção para serviços cresceu de 1,7% para 2,5%.
Próximos trimestres

Após a alta de 0,9% verificada no segundo trimestre, a equipe econômica vê um crescimento de 0,1% para o terceiro trimestre. Assim, a perspectiva da Fazenda é de continuação da desaceleração do ritmo da atividade econômica desde os três primeiros meses do ano, quando houve um crescimento de 1,8%, puxado pelo setor de agronegócios.

— Uma questão fundamental, é a leitura sobre a trajetória da economia brasileira nos próximos dois trimestres. Uma continuidade do processo de desaceleração, na margem, da atividade, já estava em nossos modelos. Mas, na nossa visão, não deve apresentar queda, e sim um crescimento um pouco menor no terceiro trimestre — pontua o secretário de Política Econômica.

Ele avalia que o último trimestre é tipicamente marcado por feriados festivos, com atividade grande no comércio e serviços. Eventos como Black Friday e Natal devem ser alinhados à “maior disponibilidade de renda” das famílias e, assim, impactar positivamente na economia, diz ele.

 

Fonte: Globo.com