Recentemente, a OMS emitiu alerta sobre aumento de casos no mundo, enquanto Brasil não registra novas infecções
No início desta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta para o aumento de casos de sarampo no mundo. Segundo a entidade, cinco das seis regiões monitoradas estão sofrendo com o surto da doença. A única exceção é o continente americano.
O Brasil, por exemplo, não registra novos casos de sarampo desde 2022, de acordo com o Ministério da Saúde.
Por outro lado, segundo a OMS, foram registrados 300 mil casos da infecção ao longo de 2023, um aumento de 79% em relação ao ano anterior. Neste mesmo período, um total de 51 países reportaram surtos da dengue.
Mas o que explica essa diferença entre Brasil e o resto do mundo? Para Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), isso se deve pela relação que o Brasil tem com a vacinação contra o sarampo.
Por exemplo, em 2016, o país chegou a receber um certificado de eliminação do sarampo pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). Isso significava que a cobertura vacinal estava em níveis bons o suficiente para que o país se visse livre da doença.
Em 2018, o cenário chegou a mudar e o vírus voltou a circular no país, que perdeu a certificação. Mais de 9,3 mil infecções pela doença na época. No ano seguinte, o número foi ainda maior: 20,9 mil casos.
Em 2022, o número de casos voltou a cair: apenas 44 casos de sarampo foram confirmados no país, sendo que o último foi registrado em junho daquele ano. Desde então, não houve registro de novos casos e, segundo Ministério da Saúde, a cobertura vacinal contra o sarampo voltou a crescer em 2023.
O surto de sarampo pode chegar no Brasil?
Em coletiva de imprensa, a conselheira técnica para sarampo e rubéola da OMS, Natasha Crowcroft, disse que é esperado que haja casos e surtos no continente americano também.
Para Renato Kfouri, o surto pode chegar no Brasil, principalmente devido aos voos que chegam da Europa. Porém, o impacto pode ser reduzido com o esforço da vacinação e dos programas de vigilância, que devem notificar rapidamente esses casos e isolar os pacientes infectados, evitando que o vírus se espalhe.
“Um caso é a criança que veio do Paquistão, no final do ano passado, e que foi atendido em Porto Alegre e já colocado em isolamento, pois estava com sarampo”, cita o vice-presidente da SBIm. Esse é um exemplo de como a transmissão pode ser contido em cenários de surto global, como acontece no momento.
Além disso, para Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, manter a cobertura vacinal em níveis adequados é uma estratégia fundamental para evitar novos surtos no Brasil.
“Se atingirmos uma taxa de cobertura vacinal acima de 90% e 95% para a primeira e segunda dose nessa população de crianças de 1 a 2 anos, e essa cobertura for homogênea no país, conseguimos ter uma certa tranquilidade de que não vamos viver esse cenário que a Europa está vivendo”, afirma.
Porém, ela também alerta ao risco de casos importados vindo de outras regiões do mundo.
“Vamos ter esses casos que são de pessoas não vacinadas que chegam ao Brasil infectadas. Isso vai acontecer. Mas se essas pessoas chegam ao Brasil e encontram uma população que está protegida contra o vírus, dificilmente vai haver um surto”, explica a infectologista.
Conscientização sobre o sarampo e a vacinação é fundamental
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou um aumento na cobertura vacinal com a tríplice viral (imunizante contra sarampo, caxumba e rubéola), em 2023. A reversão no cenário de queda, segundo a pasta, pode ser explicado pelo planejamento multi-estratégico adotado para atingir, de maneira homogênea, a vacinação em diferentes regiões do país.
“Houve um esforço grande o Ministério para retomar a vacinação entendendo quais eram as regiões mais críticas”, comenta Renato.
Conforme explica Carla, nos anos em que houve surtos de sarampo, “havia estados que estavam com menos de 50% de cobertura vacinal”. “Esses focos aumentam ainda mais o risco de termos esse aumento de casos”, afirma.
Por isso, a conscientização acerca da vacinação e da gravidade da doença é fundamental. “É preciso combater a desinformação em relação à vacina e conscientizar sobre a gravidade da doença, que pode causar complicações graves de saúde em crianças”, completa.
A vacinação contra o sarampo deve ser feita em esquema de duas doses: uma aos 12 meses e outra aos 15 meses de idade. Para crianças mais velhas, adolescentes e adultos não vacinados, a SBIm também recomenda duas doses, com intervalo de uma dois meses.
Sarampo pode ser fatal em pessoas não vacinadas
O sarampo pode ser uma doença grave e fatal principalmente na população de maior risco, que são as crianças com menos de cinco anos. “A doença pode causar quadros graves de pneumonia, de infecção de ouvido, com possibilidade de sequelas auditivas, de encefalite e levar a sequelas no desenvolvimento neuropsicomotor da criança”, afirma Carla.
O vírus do sarampo pode ser transmitido por via respiratória, ou seja, através do contato com gotículas respiratórias provenientes da fala, tosse ou espirro. “É uma doença altamente transmissível, principalmente em ambientes fechados, como as creches e escolas. Por isso, é muito importante que as crianças sejam vacinadas”, completa.
Os principais sintomas do sarampo incluem febre alta (entre 39 ºC e 40 ºC), surgimento de erupções e manchas na pele, tosse, coriza e irritação nos olhos. Em casos de febre persistente, é fundamental buscar ajuda médica para um tratamento adequado.
Fonte: CNN Brasil