Proprietários se queixam de problemas no motor 1.0 turbo e nos freios do SUV
O Hyundai Creta estreou em janeiro de 2017 como o primeiro SUV produzido, de fato, pela marca no Brasil, uma vez que os modelos Tucson e ix35 foram montados no país pelo Grupo Caoa sob licença da fabricante sul-coreana.
Batizado em homenagem à famosa ilha grega, o Creta foi desenvolvido a partir de uma variante da plataforma do sedã médio Elantra. Graças a essa arquitetura, o SUV compacto se beneficiou do entre-eixos de 2,59 metros para proporcionar bom espaço interno aos ocupantes. O porta-malas de 431 litros ficava acima da média do segmento, formado principalmente por modelos derivados de carros compactos.
O Hyundai Creta foi lançado nas versões Attitude, Pulse e Prestige, com destaque para a última, que trazia seis airbags, central multimídia compatível com Android Auto e Apple CarPlay, faróis com luzes diurnas em LED, ar-condicionado digital, chave presencial, entre outros itens de conforto e conveniência.
As versões Attitude e Pulse eram oferecidas com a motorização Gamma 1.6 flex aspirada de 130 cv de potência e 16,5 kgfm de torque. O motor Nu 2.0 flex de 166 cv e 20,5 kgfm estava disponível na Pulse e na Prestige.
A versão Pulse chegou a ser vendida por um curto período com câmbio manual, mas a caixa automática de seis marchas é onipresente em todas as configurações do SUV.
Embora jamais tenha liderado as vendas da categoria no Brasil, o Hyundai Creta nunca vendeu menos de 40 mil unidades por ano desde o seu lançamento. Em dezembro de 2020, o modelo atingiu a marca de 200 mil exemplares produzidos no país, com mais de 195 mil emplacamentos até aquela data.
“Nova geração”
Em agosto de 2021, o Hyundai Creta passou por uma profunda reestilização (chamada pelo fabricante de nova geração). Apesar de ter mantido a mesma plataforma, o entre-eixos foi alongado em 2 centímetros (totalizando 2,61 m). O visual quadradão foi substituído por uma controversa nova identidade, que ainda gera críticas pelas linhas arredondadas, grade frontal de tamanho avantajado e conjunto óptico dianteiro separado em quatro elementos.
O interior ficou mais sofisticado com a adoção de materiais de melhor qualidade no acabamento e novos equipamentos. As versões mais equipadas contam com assistências de condução – como frenagem automática de emergência e assistente de direção – e teto solar panorâmico.
O novo Hyundai Creta também chegou com uma nova motorização: a TGDI 1.0 turboflex de três cilindros com injeção direta de 120 cv e 17,5 kgfm, também combinada ao câmbio automático de seis velocidades.
O motor 2.0, rebatizado como Smartstream, passou por atualizações para melhorar a sua eficiência. Disponível apenas na versão topo de linha Ultimate, o propulsor teve um discreto ganho de potência e torque para 167 cv e 20,6 kgfm, respectivamente.
O motor 1.6, por sua vez, continua equipando a versão Action, que manteve o visual antigo para ser comercializada como uma opção mais em conta do Creta.
Principais defeitos, segundo os donos do SUV
Os proprietários do Hyundai Creta costumam elogiar o bom espaço interno, o nível de equipamentos e a confiabilidade dos motores aspirados. No entanto, a motorização 1.0 turboflex, disponível somente a partir de 2021, tem sido o principal motivo de queixas no site Reclame Aqui. Na plataforma, os donos do SUV também registraram descontentamento com o funcionamento dos freios e falhas no acabamento do volante do modelo.
“Comprei um Hyundai Creta Platinum 2022 zero quilômetro há pouco mais de dois anos. O carro é muito pouco rodado (15.000 Km) e nunca sofreu nenhum tipo de acidente. No começo deste ano, o motor começou a falhar e levei [o veículo] para a concessionária Hyundai HMB CAOA de Fortaleza. Diagnosticaram como problema no bico injetor e que iriam pedir a peça na fábrica. Esperei mais de um mês até finalmente mandarem a peça para substituição (injustificável esse prazo). O carro não rodou dois meses e o problema voltou a ocorrer. Levei o veículo à concessionária, e informaram que era [problema] no outro bico injetor. Desta vez me devolveram o carro em três dias”, conta o cliente Ricardo, de Fortaleza (CE).
O consumidor acrescenta que o carro apresentou o mesmo problema dez dias depois de buscá-lo na concessionária, onde foi verificado um defeito no sistema de oxigenação do motor. Ricardo reclama ainda da falta de peças em estoque, dificultando a previsão de entrega do veículo.
Por meio do Reclame Aqui, a Hyundai entrou em contato com o consumidor, que se mostrou satisfeito com o atendimento do fabricante.
Defeito na injeção direta
O moderno motor TGDI 1.0 turboflex é o motivo das críticas mais contundentes por parte dos consumidores, que relatam problemas no sistema de injeção direta de combustível, como perda de potência e até desligamento involuntário do propulsor durante a utilização do veículo.
O que diz o especialista?
De acordo com o mecânico Paulo Vianna, esses defeitos também foram observados no HB20, modelo que também utiliza o motor TGDI 1.0 turboflex. Para o especialista, é necessário fazer uma investigação mais profunda para saber se é um defeito crônico desse propulsor ou se os carros que apresentaram o problema estão sendo abastecidos com combustível de qualidade duvidosa.
Freios
Os donos do Hyundai Creta também se queixam de problemas nos freios do SUV. Alguns proprietários do modelo dizem que o sistema fica inoperante ou simplesmente trava as rodas durante a utilização do veículo, comprometendo consideravelmente a segurança dos ocupantes.
O cliente Luciano, do Rio de Janeiro (RJ), relata que o seu Hyundai Creta “ao transitar pela rodovia Washington Luiz, experimentou uma falha crítica nos freios, resultando em seu endurecimento [do pedal] e completa inoperância. Apesar dos esforços ao pressionar o pedal com mais força, não houve resposta [dos freios], levando à inevitável colisão com a traseira de outro veículo, que colidiu com o carro à sua frente. Por sorte, o trânsito estava intenso e o veículo trafegava em baixa velocidade, e nenhuma vítima foi acometida”.
A Hyundai respondeu o relato dizendo que pediu esclarecimentos à concessionária Itavema de Duque de Caxias (RJ), onde o veículo foi comprado, mas”após análises feitas pela concessionária, não foi identificado inconveniente referente ao freio, mas estamos a seu dispor para sanar quaisquer dúvidas”.
O que diz o especialista?
Para Paulo Vianna, esse tipo de falha “é gravíssima, uma vez que expõe os ocupantes do carro e terceiros a risco de acidente. É preciso investigar e, se necessário, convocar um recall para solucionar esse defeito, caso seja constatado que se trata de um problema crônico do modelo. Se os freios travam ou ficam inoperantes durante a condução do veículo, o motorista fica impossibilitado de evitar uma colisão”.
O que diz a Hyundai?
Autoesporte questionou a Hyundai sobre as reclamações dos clientes. A assessoria de comunicação da fabricante respondeu a reportagem com a nota abaixo:
“A Hyundai acompanha de perto as questões levantadas pelos clientes e reforça que melhorias são implementadas constantemente nos modelos da marca. Sobre as situações abordadas, podemos perceber que se trata de casos pontuais, sendo muitos deles cobertos pela Garantia Hyundai de 5 anos sem limite de quilometragem. Os relatos apresentados na plataforma ‘Reclame Aqui’ são acompanhados e tratados com muita dedicação por nossa equipe de Relacionamento com o Cliente. A empresa reforça que seu departamento de Pós-Venda tem atuado constantemente para que todos os clientes sejam atendidos dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela Hyundai. A Central de Atendimento Hyundai está à disposição para eventuais dúvidas e esclarecimentos”.