TEXTO: Adair Oliveira
PRODUÇÃO: Victoria Junqueira Pollo
FOTOS: Bruno Fioravanti
A atriz Dulcina de Moraes disse uma vez que Brasília irradiará a Nação. Henry Zaga é um dos talentos que reforçam a profecia da grande atriz brasileira.
CMNDDE VIP: Como você percebeu sua vocação para as artes cênicas?
Henry Zaga: A minha família sempre teve o costume de se reunir na casa da minha tia para os almoços de domingo. Então, eu e os meus primos sempre organizávamos várias histórias e as apresentávamos para os adultos, que, com toda paciência, nos prestigiavam-nos fim do dia, mesmo sem entenderem nada (risos). E eu fui muito influenciado pelo cinema hollywoodiano. Isso foi muito forte, pois era como se eu estivesse me socializando com aqueles personagens. Mas, se fosse eleger um marco, seria bem no início do ensino médio. No colégio, tudo era tão impessoal, não havia um escape, nada levava para o desenvolvimento ou o despertar de uma vocação artística.
Foi um período triste na minha vida, porque eu não conseguia estabelecer uma relação afetiva com aquele lugar, e acabei encontrando outras pessoas na mesma situação, um deles, o meu amigo Gustavo Bertoni (da banda Scalene). Nós estávamos nessa mesma anestesia emocional e sempre conversávamos sobre qual seria o nosso caminho e como o encontraríamos e ele não era o óbvio, como vestibular para Direito ou Engenharia. Então, conversei com os meus pais para ir estudar na Escola Americana, pois lá há uma pedagogia que colabora para que o aluno se descubra profissionalmente. Lá, eu tive uma professora, a Myriam, que fez tudo diferente. Ela montou o musical Hairspray e, para mim, foi uma experiência tão libertadora que eu tive a certeza de que queria ser ator.
CMNDDE VIP: Como foi a sua ida para os Estados Unidos?
HZ: Eu não poderia contar de primeira para a minha família que queria estudar atuação, pois eles iriam pedir para eu ficar em Brasília e fazer uma faculdade por aqui. Comecei a me organizar e fui estudar business, na Flórida. Lá, eu estudava e trabalhava, porque eu tinha que ter uma reserva para quando fosse contar aos meus pais que eu ia me mudar para a Califórnia para estudar interpretação. Se eles dissessem “não”, eu teria como me sustentar. Após um ano, não aguentava mais. Conversei com o meu pai, disse que queria ser ator, que já havia sido aprovado na escola e feito a matrícula. O meu pai me disse que eu deveria ter dito antes e que me via muito mais bem-sucedido como ator do que no ramo empresarial. As palavras dele mexeram muito comigo. Então, percebi que o meus pais são realmente os meus melhores amigos!
CMNDDE VIP: E o período na New York Film Academy?
HZ: Você tem que ter um filtro muito bom, tem que selecionar tudo, apreender o máximo dos professores, encontrar a sua linha e suas ferramentas de trabalho; além de ter seus métodos de estudo e saber as coisas que funcionam ou não para você. Tem que ser esperto para filtrar tudo isso, senão você começa a criar regrinhas na cabeça, e isso acaba inibindo o seu processo de criação. Durante o período que cursei a escola, eu tive professores que, por não terem sido bem-sucedidos em suas carreiras acabavam podando os alunos. Teve um que me disse que provavelmente eu voltaria para o Brasil e faria novela! Isso me marcou muito e me deu mais vontade de ficar e construir a minha carreira nos Estados Unidos.
CMNDDE VIP: E o programa educacional?
HZ: Na New York Film Academy, em Los Angeles, o curso técnico é direcionado para o cinema e tem duração de 3 anos. É um curso superpuxado, com uma carga horária que inclui aulas aos sábados. Com um ano e meio de curso, a minha manager me achou na peça de teatro da escola. Ao final da peça, ela veio falar comigo e me convidou para tomar um café, que duraria meia-hora, mas acabou levando duas horas. Ao final da conversa ela disse: vamos trabalhar! Eu vou tirá-lo da escola e fazê-lo trabalhar em um segundo. O que ela disse ficou martelando na minha cabeça, mas fiquei em dúvida. Continuei mais um mês na escola para tomar a decisão sobre o convite. No mês seguinte fiz meu primeiro trabalho, o filme Cardinal X, da Angie Wang. O roteiro conta a história da diretora, uma garota que queria crescer profissionalmente. Só que eu não peguei o papel de primeira porque a diretora de elenco não gravou o meu teste. Eu tinha gostado do roteiro e do personagem, então saí frustrado da audição pensando no “porquê” ela não me havia filmado. Ao chegar em casa, liguei para minha manager e falei o que havia acontecido, e ela achou estranho também. Depois que conversamos, comecei a folhear o roteiro, onde havia o e-mail pessoal da diretora.
Imediatamente entrei em contato com ela e contei a minha história. Fiz também um vídeo com a mesma cena da audição. Em menos de duas horas, ela respondeu ao meu e-mail. Disse que aplaudia muito a minha atitude, que em alguns dias estaria em Los Angeles e perguntou se eu gostaria de tomar um café com ela. No final do e-mail ela colocou uma observação: de que havia conseguido a protagonista do filme dessa maneira. No café conversamos muito, e ela disse que eu tinha que estar no filme dela.
CMNDDE VIP: E o teste para o Josh em Teen Wolf?
HZ: Foi depois da minha participação no seriado Mysteries of Laura. Eu fiz duas audições: uma para o Donovan; de que gostaram muito, mas disseram que o tipo de personagem não era para mim, mas que havia o Josh. Eu super me identifiquei com o personagem. Dois minutos após sair do prédio do teste, a minha manager me ligou e me disse que provavelmente o papel seria meu. Quando cheguei em casa recebi uma ligação confirmando isso.
CMNDDE VIP: Você poderia falar sobre a rotina das gravações?
HZ: Eu não tenho uma rotina semanal de trabalho, dia após dia, mas há dias de gravação com horário de acordo com as filmagens das cenas. Há dias em que gravo por 6 horas, outros dias, por três horas. Se a cena for noturna, eu trabalho à noite, de 9h às 6h da manhã. Às vezes, você tem 12 horas de descanso e tem que voltar para o set. Mas, quando está gravando, tudo é muito corrido, e o ator tem que chegar pronto!
CMNDDE VIP: Como é preparação de elenco?
HZ: Não há coaching para direção do ator. O coaching é para se preparar para testes, pois ao ser contratado o intérprete, presume-se que saiba atuar. Sempre há ensaios, mas são de direção, ligados à marcação de cenas e à posição de câmera. Portanto, o ator tem que estar pronto para o estúdio e a televisão. É bem diferente de cinema. É tudo muito rápido, com tempo para começar e para terminar. Por isso, o trabalho com o coaching ou preparador de elenco vem antes, pois na hora não existe essa possibilidade e nem tempo para o diretor realizar essa função.
CMNDDE VIP: O seu personagem morreu, mas retorna na próxima temporada. Você poderia nos dar um pequeno spoiler?
HZ: Nada! Eu posso ser processado! Eu posso dizer que o Josh tem umas cenas bem legais e que não se tem certeza se ele é vilão ou mocinho!
CMNDDE VIP: Quais conselhos você daria a quem quer entrar na carreira artística?
HZ: Estude, estude, estude e estude, porque não há nada melhor para prepará-lo. Assista a filmes bons e ruins e comece a compará-los, para ver o que fazer e o que não fazer. Tudo o que você copia deve ser feito de forma diferente, adicionando o seu ingrediente. Se você pretende atuar nos Estados Unidos ou em outro país, estude o idioma, pois vai somente conseguir um papel de nativo se falar como um nativo daquele país. Nos Estados Unidos, se não falar o inglês como americano você só atuará como latino.
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