Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 350 mil pessoas morrem por ano no Brasil em decorrência de doenças cardiovasculares, fator muito afetado pelos maus hábitos alimentares e pela falta de exercícios físicos, além do desconhecimento sobre o assunto. Segundo pesquisa da mesma entidade, cerca de 40% da população tem níveis de colesterol acima do recomendado.

No entanto, para o endocrinologista do Hospital Brasília, Luís Bianchi, o colesterol pode não ser ligado somente aos hábitos da pessoa. Fatores genéticos podem interferir bastante na produção dessas substâncias no corpo. “A produção de colesterol no corpo é um processo natural. O problema são as alterações nas taxas, que podem ser provocadas por diversos fatores. Embora a alimentação influencie no aumento do colesterol, outros fatores podem ser até mais fortes, como o genético, que impacta diretamente na produção do colesterol tido como “ruim” – o LDL”, explica Bianchi.

Por isso que, em alguns casos, dietas e mudanças alimentares têm efeito limitado sobre os níveis de LDL, explica o endocrinologista, acrescentando que a orientação médica é imprescindível para a detecção e o tratamento do colesterol alto. A depender da predisposição genética do paciente, por vezes é necessário intervir com medicações para que haja controle da doença.

“Já o triglicérides – gorduras produzidas pelo próprio corpo ou adquiridas por meio dos alimentos, podem ser ‘queimados’ durante a prática de exercício físico. Aí sim, as mudanças de alimentação e a prática de exercício físico são de grande impacto”, explica Bianchi.

Mudança de hábitos

Hoje, pesquisas apontam grande crescimento dos níveis de colesterol na população jovem. Segundo o Estudo dos Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, um a cada cinco jovens possuem níveis de colesterol acima do recomendado. Bianchi aponta na mudança de hábitos nas últimas gerações como causa desses índices.

“Na década de 80 e 90, a diversão incluía exercícios físicos. Hoje em dia é computador, tablet, celular. Então, os adolescentes fazem muito menos exercícios. E a educação alimentar não acompanhou essa ‘sedentarização’. Se você faz menos exercícios, você precisa comer menos. Do contrário, pode ter complicações de saúde”, pondera.

“É falta de orientação. Notamos que é bastante comum que os pais de crianças e adolescentes acima do peso também estejam acima do peso”, complementa Luís Bianchi. O endocrinologista ressalta, ainda, que a obesidade, apesar de muitas vezes não ser o principal fator causador do aumento no LDL, é um dos que geram bastante impacto nos níveis de colesterol.

Prevenção

Os melhores modos de prevenção de doenças cardiovasculares são a melhoria da alimentação, prática de exercícios físicos e o acompanhamento médico, explica Bianchi. “Como o colesterol alto pode vir da genética, é importante que a pré-disposição seja detectada rápido. Um simples exame de sangue pode revelar e nos alertar sobre alterações”.

A atividade física também é importante. Segundo o médico, 30 minutos de caminhada são suficientes para melhorar os níveis de colesterol e triglicérides. Deve-se considerar também outras mudanças, como a cessação do tabagismo, que é um fator de risco grave para doenças cardiovasculares.

Tipos de Colesterol

Segundo Luís Bianchi, é necessário que os tipos de colesterol sejam diferenciados. “As principais frações de colesterol que analisamos são: o ‘LDL’, o ‘HDL’ e os ‘triglicérides’. O ‘LDL’, chamado de ‘colesterol ruim’, é o mais perigoso, pois caso se apresente em grande quantidade resulta em acúmulo de gordura nas artérias e pode levar ao infarto ou derrame. O ‘HDL’ é antagonista ao ‘LDL’, trabalhando com a ‘limpeza das artérias’ e servindo como proteção contra as doenças cardiovasculares”, explica.

Segundo o endocrinologista, os valores de “colesterol total” não devem ser considerados isoladamente como indicativo de saúde ruim. “É preciso que cada tipo de colesterol seja medido, uma vez que o alto índice específico de LDL, apontado como uma das causas dos infartos do miocárdio, está misturado no colesterol total com o HDL, que tem efeito protetor contra as mesmas doenças”.

Bianchi também afirma que é importante estar atento ao nível de triglicérides, que, apesar de muitas vezes negligenciados, também podem atuar como causadores de doenças cardiovasculares, bem como pancreatites agudas, quando aumentados”, destaca.