Gavin Griffiths já fez mais de 70 provas de corrida. Seu objetivo: provar que ser diabético não é impeditivo para atividade física – pelo contrário
Em janeiro do ano 2000, a família do inglês Gavin Griffiths, então com 8 anos de idade, recebeu uma notícia que mudaria a vida do garoto para sempre: ele tinha diabetes. O diagnóstico veio após ele levar semanas para se recuperar de uma gripe que havia contaminado todo mundo da casa. E não só: o quadro do pequeno Gavin evoluiu para idas constantes ao bebedouro e, em seguida, ao banheiro. Quanto mais ele comia, pior se sentia. E o menino ativo que adorava jogar futebol não tinha pique para mais nada.
Todos esses sintomas foram confirmados como um caso típico de diabetes tipo 1, doença autoimune que costuma dar as caras ainda na infância. Entre as recomendações do médico que atendeu a família Griffiths, foram dados vários alertas sobre como a doença iria afetar negativamente a vida do menino – inclusive em relação à prática de esportes. “Aquilo me fez odiar o diabetes”, lembra Gavin.
Mas, felizmente, o prognóstico estava errado: em pouco tempo, ele estava chutando bola novamente, só que sem se preocupar em entender e encarar de frente sua condição. Foi só em 2008, com 17 anos, que Gavin uniu, pela primeira vez, sua paixão esportiva à doença com que ele está fadado a conviver . “O hospital que eu frequentava estava com problemas financeiros e eu queria levantar fundos para ajudar”, conta Griffiths.
Ele decidiu participar de uma ultramaratona de 46 quilômetros, na Thanet Coastal Run, prova que acontece na cidade de Kent, no sudeste da Inglaterra. “Muitos disseram que eu não ia conseguir… E terminei em três horas e um minuto. Então, eu consigo fazer isso, mesmo sendo diabético”, afirma.
A partir desse episódio, Gavin não parou de correr e passou a aceitar desafios cada vez maiores. Hoje, aos 25 anos, ele se orgulha de já ter corrido mais de 70 provas – em cinco continentes. Um dos desafios mais marcantes foi o 30 Maratonas em 30 Dias, em que percorreu quase 1 500 quilômetros em um mês, cruzando a Inglaterra de norte a sul.
O “diatleta”
Os feitos de Gavin em prol do diabetes ganharam notoriedade – tanto é que, em 2012, ele foi uma das pessoas a carregar a tocha olímpica nos Jogos de Londres. Logo começaram a chamá-lo de o “diatleta”, em referência ao diabetes. “Mas eu não queria apenas ser o ‘diatleta’, queria repassar isso a outras pessoas com a doença”, diz.
Em 2015, ele fundou a DiAthlete, uma organização que buscar disseminar informações sobre o diabetes por meio da atividade física e mostrar, assim, que ser diabético não é sinônimo de seguir uma vida cheia restrições. “A ideia é levar educação com encorajamento em eventos longe do hospital, que unem as pessoas”, explica Griffiths.
Este ano, ele se juntou à farmacêutica francesa Sanofi para um tour global, em que passará por todos os continentes para promover eventos com corrida. Entre os lugares que já visitou está o Brasil. No último domingo (25), ele participou de um evento em São Paulo de conscientização sobre o diabetes, que contou com um piquenique e uma corrida, claro.
O esporte como escola
Foi só quando Graffiths começou a correr que ele passou a conhecer melhor sua condição e as reações do seu organismo – a frequência com que precisa medir a insulina, como esse hormônio se comporta antes, durante e depois do exercício e a quantidade de carboidratos que ele precisa comer em dia de prova. “Se estou num desafio longo, que dura dez horas, preciso de menos insulina porque os níveis de açúcar no sangue se mantêm baixos. Mas quando estou jogando futebol, necessito uma quantidade maior, pois as taxas sanguíneas de glicose ficam altas”, esclarece.
Algumas vezes, os cálculos de Gavin deram errado e resultaram em episódios de mal-estar. “Mas isso me fez saber como controlar meu diabetes”, pontua. “Por meio do esporte aprendi tudo o que sei hoje”.
Informação e otimismo são tudo
O jovem inglês é a prova de que ver o lado positivo das dificuldades e aprender com elas são a melhor solução – sempre! “Quando você descobre o diabetes é um choque. Mas, no meu caso, eu não teria conquistado nada na minha vida se não fosse a doença. Não teria conhecido o mundo, não estaria no Brasil. Ao mudar de atitude e aceitar minha condição, consegui correr maratonas, jogar futebol e conhecer pessoas e lugares maravilhosos”, declara.
A mensagem que ele quer passar é que informação e otimismo são essenciais para superar o diabetes. “Cuidando-se a cada dia, por mais trabalhoso que seja, você se empodera”, garante.
Gavin Griffiths dividiu com BOA FORMA algumas das estratégias que ele descobriu ao longo dos últimos anos para controlar o diabetes durante e depois do exercício. Vale lembrar que elas podem não funcionar para todo mundo. Por isso, converse com seu médico para saber o que se aplica a você.
- Saiba que tipo de atividade você vai praticar. Isso vai influenciar a ação da insulina no seu sangue. “Ao correr 5 quilômetros num trote leve e constante, é provável que os níveis de açúcar no seu sangue baixem. Mas se você vai competir numa prova de 5 quilômetros, em que seu pace altera dependendo das características do percurso, as taxas de glicose podem subir muito e, depois, cair drasticamente”, alerta Gavin.
- É sempre bom levar para o treino ou a prova todo o aparato de um diabético, como o aparelho de medir insulina, géis de carboidrato e suplementos de glicose.
- Gavin costuma ter refeições generosas depois da corrida – com muito carboidrato. Antes de uma prova, no entanto, nada de abusos. “Não é bom ter hiperglicemia porque aí você não consegue se concentrar e sua performance será afetada”, observa.
- Medir a insulina antes, durante e depois do exercício é a melhor forma de conhecer seu corpo e aprender a dominar o diabetes – e conquistar, assim, uma vida ativa e cheia de saúde.
Créditos: Boa Forma