1917-2017. Lá se foram cem anos desde a revolução que levou, à cisão, as principais potências mundiais, mudando os rumos da Europa do Leste e de todo o planeta. Da Revolução Russa pra cá, nasceu e se desfez a poderosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). E foram pouco mais de 70 anos sob um regime que mexeu com corações e mentes de gerações inteiras.
Isso talvez explique por que, apesar de já não existir há um quarto de século, a União Soviética possa “ser visitada” onde quer que ela se tenha feito presente: nos diferentes países que a formaram e nos que se uniram a ela, do lado de lá da Cortina de Ferro. E, em que pesem a turbulência e as perdas deixadas pelo período histórico, roteiros turísticos para conferir o legado soviético estão por todos os lados.
Em grande parte, as marcas são profundas, e as lembranças, críticas. Como no Museu das Vítimas do Genocídio, na Lituânia, dedicado aos mortos nas ocupações nazista e soviética. No entanto, no também lituano Gruto Parkas, parque que reúne esculturas de líderes comunistas retiradas do lugar original, um restaurante oferece receitas da época.
Imitadores de Lenin e Stalin batem ponto no centro de Moscou. No ano do centanário da Revolução Russa, a cidade é destino certo para quem quer “revisitar” a antiga União SoviéticaFoto: YURI KADOBNOV / AFP
E a História também se materializa em atração em Chiatura, na Geórgia, onde moradores e turistas ainda trafegam no velho teleférico instalado pelo governo stalinista. Na Polônia, outro legado a observar: o distrito de Nowa Huta, na Cracóvia, planejado para ser exemplo de urbanismo soviético, mas que não chegou a ser replicado. Na capital alemã, o Muro de Berlim, um dos principais símbolos da Guerra Fria, é visita quase obrigatória.
Metrô imponente reforça a glória do regime
Já na Rússia, fãs e críticos do antigo regime têm se mostrado cuidadosos na celebração do período. Mas, como para o país, o passado soviético é sinônimo de época de glória, seus sinais são vistos em vários lugares — do imponente metrô de Moscou aos memoriais que lembram a vitória sobre os nazistas, como o de Volgogrado (antiga Stalingrado).
A seguir, registros desse turismo histórico que apuramos, de Berlim a Moscou.
- Rússia: de bares a estações de metrô
- Rússia: a revolução nos museus de Moscou
- Rússia: alugando um apê em São Petersburgo
- Ex-URSS: Memória viva nos vizinhos
- Alemanha: marcas soviéticas visíveis em Berlim
- Alemanha: A ponte dos espiões e de Spielberg
- Alemanha: o muro, tema que circunda Berlim
- República Tcheca: refrigerante e relógio comunista
- Cortina de Ferro: Passeios guiados pelo passado
Rússia: de bares a estações de metrô
O METRÔ E SUAS BELAS ESTAÇÕES. Um dos melhores programas de Moscou — e talvez o mais barato — é explorar as estações de metrô, que foram construídas na era soviética. Algumas são deslumbrantes, e descobri-las é uma grata surpresa. As mais bonitas estão perto do centro. A Ploshchad Revolyutsii e a Teatralnaya ficam nas áreas do Kremlin e do Bolshoi. De linhas diferentes, têm ligação subterrânea para baldeações. É possível ir a pé de uma para a outra.
Até bem pouco tempo, para tirar fotos nas estações era preciso o maior cuidado para evitar reprimendas. Era meio proibido, embora não houvesse regra escrita. Hoje, as mais bonitas têm marcado no chão o ponto ideal para as “selfies”. Sinal dos tempos.
Os primeiros projetos do metrô de Moscou datam do século XIX, seguindo a novidade na Europa, mas não chegaram a sair do papel até o fim da década de 1920, após o rápido crescimento da capital soviética, cuja população havia quadruplicado em relação ao período pré-revolucionário, chegando a 4 milhões.
A primeira linha foi inaugurada em 1935 com direito a discurso de Stalin. O sistema é extremamente eficiente. Tem 12 linhas que percorrem mais de 300km entrecortados por umas 200 estações, que transportam quase toda a população, todos os dias. Com um bilhete (que custa 55 rublos ou cerca de R$ 3,00), pode-se percorrer toda a linha circular.
Na Linha do Anel (Koltsevaya), merecem uma parada, entre outras, a Komsomolskaya, a Kurskaya, a Taganskaya, a Park Kultury, a Kiyevskaya, a Beloruskaya e a Novoslobodskaya. Na Linha Azul, a Park Pobedy e a Elektrozavodskaya também se destacam. Uma dica: entre as preferidas dos russos está a Maiakovskaya, que tem acesso pela Praça Maiakovski.
FLIPERAMA, CAFÉ E ‘MUSEU’. O pequeno café passaria despercebido na Kruznetsky Most, a rua de pedestres de bares e restaurantes da moda, vizinha ao luxuoso shopping-center Tsum, a dez minutos do Kremlin. É novidade. O chamado Museu dos Fliperamas Soviéticos seria mais uma destas casas que têm pipocado por Moscou, com decoração descolada, em prédios pré-revolucionários. O entra e sai dificulta a leitura do discreto letreiro em cirílico na falsa coluna de concreto da entrada: “museu dos fliperamas soviéticos”. Sim, a nostalgia está no ar. O lugar fica lotado.
Lá dentro, o espaço se divide entre café e museu. Este, com dezenas de fliperamas soviéticos dos anos 1970 a 1990. Aquele, com mesas e cardápio modernos, mas decorado com objetos saídos dos idos da velha URSS, como o “orelhão” da época. Todas as máquinas em exibição funcionam.
A entrada, que custa 450 rublos (cerca de R$ 26), dá direito a 20 moedas soviéticas de 15 rublos, garantia de diversão entre foguetes, navios de guerra e até um totó, o “futbolas”. Elas vêm num envelope do tipo folha de revista, como nos velhos tempos. O programa é, de fato, uma viagem ao passado. Vizinhas ao museu, há duas livrarias interessantes: uma de livros estrangeiros (há grande variedade de obras sobre a URSS e a Rússia contemporânea) e outra de antiguidades e livros da época, com belas edições, bem conservadas a bons preços.
NO GUM, LATAS DE ALIMENTOS VINTAGE. Se estiver pelo Kremlin, logo na saída vale passar pelo sofisticado shopping GUM, uma mansão burguesa, onde chegou a funcionar uma loja de departamentos estatal durante o regime soviético e deu origem ao maior centro de distribuição de alimentos da capital. O Gastronom 1, no primeiro andar, é hoje uma delicatessen chique: ali latas de carne processada e de leite condensado da URSS são vendidos como produtos vintage.
DESTAQUES DA COZINHA SOVIÉTICA. Saindo pela estação Tverskaya, encontra-se o restaurante “Varenichnaya”, uma atração à parte em Moscou. Aliás, há outro na Arbat e um terceiro na rua de pedestres próxima ao Kremlin, a Kamergersky Pereulok. A decoração é soviética, assim como o uniforme dos garçons, a trilha sonora e ainda os filmes que passam, sem parar, no segundo andar.
O longo cardápio impressiona. O frango Kiev, o blini de frango (com cogumelos e o tvorog, a ricota russa) e os vareniki (os nhoques russos) são destaques nessa lista. Em minutos, os estrangeiros se dão conta de que a maioria dos convivas das mesas vizinhas perderam a cerimônia e cantarolam, como se estivessem em casa, as canções que aprenderam ainda jovens na União Soviética.
ESPUMANTE PARA OS CAMARADAS. O sovetskoye champanskoye pode não se parecer em nada com o verdadeiro champanhe francês, mas tem seu charme. Ainda faz sucesso entre os russos. Começou a ser produzido por ordem de Josef Stalin, há mais de 70 anos. A ideia era oferecer aos trabalhadores algo borbulhante para comemorar as vitórias do socialismo, a preços camaradas. A fórmula foi criação do químico Anton Frolov-Bagreyev (antigo empregado do príncipe Golitsin de Abrau-Dyurso, o primeiro a produzir bons vinhos no país, antes da revolução, e de o setor cair em desgraça). O espumante soviético pode ser comprado em supermercados ou delicatessens.
Rússia: a revolução nos museus de Moscou
A visita ao mausoléu de Vladimir Ilyich Lenin, colado ao Kremlin, é obrigatória — no aniversário da revolução ou fora dele, a não ser que o visitante não tenha qualquer interesse sobre esta figura que ainda se vê por toda a Rússia. Pelas contas oficiais, só em Moscou, seriam 82 estátuas do líder bolchevique. Mas especialistas garantem que há pelo menos outras dez. A maioria está fora do centro. Perto da galeria Tretiakov, entretanto, há o chamado cemitério das estátuas soviéticas — até com monumentos a Stalin.
E, claro, Moscou é cheia de museus. Vários deles indicados internacionalmente. A seguir, alguns destaques.
DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA. Na saída da estação Tvers-kaya, pode-se aproveitar a imperdível exposição “1917, a senha da revolução”, comemorativa dos 100 anos da revolução no Museu da História Contemporânea de Moscou. Trata-se do velho Museu da Revolução, como passou a ser chamado, ainda em 1917, o antigo Clube dos Ingleses, frequentado pela aristocracia e pelos intelectuais da Rússia pré-revolucionária.
A exibição foi preparada com zelo e tem uma grande novidade em relação à dos 90 anos de aniversário: muitas explicações em inglês. A falta de legendas e textos em inglês é sempre uma queixa dos estrangeiros. E foi o principal motivo de reclamação do livro de visitantes.
Desta vez, está tudo mais acessível para quem não fala russo. O ingresso custa 250 rublos (R$ 14). A lojinha tem uma variedade de produtos: de capa de celular com as imagens de Lenin (350 rublos) a camisetas com motivos soviéticos (de 750 rublos a 1.800 rublos) e blocos, pratos de cerâmica de boas marcas russas, até livros, ímãs e paus de selfie. Tem de tudo.
DA IMPRENSA CLANDESTINA. Há um museu em especial para o qual se dá pouca atenção, mas que, no centenário da revolução, torna-se essencial. No subsolo da antiga mercearia Kalandadze, no 55 da Rua Lesnaya, centro da capital, está o Museu da Imprensa Clandestina, onde funcionavam as máquinas da última célula da imprensa revolucionária do período czarista. Todas as outras foram descobertas pelas autoridades e desativadas.
A modesta loja, num prédio de três andares do século XIX, pertencia a uma família de georgianos que vendia frutas, legumes e suluguni (o queijo típico da ex-república soviética da Geórgia) e vivia nos fundos da loja. Não se sabe ao certo se ela sabia do que se passava no subsolo.
É um dos museus mais curiosos de Moscou. Foi aberto ao público em 1924 e reformado de maneira fidedigna, sob a orientação de quem ali esteve. Estavam todos vivos na época da inauguração. As máquinas que rodavam os jornais e panfletos operavam nas barbas da polícia: havia uma delegacia nas proximidades e a prisão Butyrka. Diz-se que os oficiais eram bem tratados. Ganhavam frutas e legumes. Talvez por isso o lugar tenha se mantido incógnito por tanto tempo.
O editor-chefe era ninguém menos que o escritor e ativista político Máximo Gorki. Sua casa, na Rua Nikitskaya, aliás, tem um corrimão de mármore art-nouveau, que talvez seja o mais bonito do mundo.
SOBRE MAIAKOVSKI. Este museu também é indispensável para quem quiser ver a URSS e conhecer a história de um dos seus maiores entusiastas. Vladimir Maiakovski, conhecido como “O poeta da Revolução”, se matou depois que percebeu que a causa que abraçou era bem diferente da realidade. No museu, tudo foi pensado para reproduzir o ambiente futurista em que ele vivia.
SOBRE A COSMONÁUTICA. Ainda fora do roteiro óbvio de viagem, há o Museu da Cosmonáutica, reformado recentemente, para exibir um dos maiores legados da União Soviética: a conquista do cosmos. Não perca o imenso painel na fachada com Lenin, nem o monumento ao Sputinik.
CENTRO PANRUSSO. O parque VDNKh, o Centro Panrusso de Exposições, que vem sendo reformado, é até hoje uma referência para quem quer rever a União Soviética, uma espécie de museu a céu aberto. Ótimo para um passeio ou piquenique no verão. Cada um dos pavilhões representa uma das repúblicas soviéticas.
BUNKER DE STALIN. O Bunker de Stalin é outro local interessante. Vale a pena pedir a agentes de viagem ou hotéis para organizarem a visita. Fica perto da Feira de Ismailov (metrô Partizanskaya, outra estação que merece uma espiadela). É neste mercado meio caótico que se encontram relíquias soviéticas. Bustos de Lenin, uniformes de soldados e outros objetos da época. A feira fica fora do centro e deve ser visitada no fim de semana. Lá se encontram as matrioskas, as bonecas russas que se encaixam, o brinquedo das crianças soviéticas. (Vivian Oswald)
Rússia: alugando um apê em São Petersburgo
Aluguei um apê perto da Nevsky, a principal avenida do centro de São Petersburgo. O prédio, anterior ao período soviético, fica no bairro histórico. Arquitetura meio palaciana, mas sem luxo, a não ser o fato de ter elevador. A dona, uma russa linda (como são bonitos!), de inglês razoável, nos proibiu de entrar de sapato na casa: o piso era centenário. Custou € 100 a diária, uma sala integrada com a cozinha e um quarto.
Fiquei em dúvida se alugava outro com padrões mais “soviéticos”, que costumam não ter salas de estar: uma mesa na cozinha faz esse papel social. Todos conversam e ficam mesmo por ali. Às vezes, a cozinha emenda com o box do banheiro… São bem mais baratos do que o meu “palácio”, que tem área interna detonada, decoração de gosto duvidoso, mas janelas duplas para o frio não passar. E calefação tinindo. Em dezembro, os termômetros podem passar dos menos 25°C. Janela dupla é fundamental.
Para mim foi uma curtição explorar as formas de moradia na cidade. O trajeto para Pushkin, onde fica o Palácio de Verão da Catariana, a uma hora de carro do centro de Peters, serve de mostruário. Os krushchevkas, blocos construídos nos tempos de Kruschev.No momento, esses prédios, que lembram muito Brasília (mas de projeto feio e matéria prima de qualidade ruim), estão ameaçados de virem abaixo. O governo de Putin quer derrubar e erguer torres no local, sem prometer aos moradores acesso aos novos imóveis. Segundo a guia Anastásia, de português fluente, virou cult alugar esses apês minúsculos, menos de 40 metros quadrados, sem sala de estar e de poucos cômodos, mas que carregam histórias e simbolismos da moradia igualitária da era comunista. Procurei um “krushchevka” na internet, mas não encontrei nenhum deles, pelo menos com essa identificação.
No Hermitage, em meio as 1.053 salas, foi na mais acanhada delas que um detalhe me chamou a atenção. Sobre a lareira, com gradil dourado, havia um pequeno relógio, o único toque de luxo. Estava parado em 14h15m. Ao lado, uma placa, que a guia traduziu: foi nesse exato horário que um mensageiro entrou na sala onde Nicolau II, a mulher Alexandra e seus cinco filhos almoçavam, e contou que a revolução estava em curso. Os bolcheviques tinham tomado o poder. O czar e a família deixaram o Hermitage poucos minutos depois, para não nunca mais voltar.
Ex-URSS: Memória viva nos vizinhos
As ex-repúblicas da União Soviética formam uma verdadeira colcha de retalhos étnica, cultural, política e econômica. Em comum, elas têm a herança — mais ou menos querida, dependendo do país — do regime de Moscou em suas paisagens.
UCRÂNIA: VIZINHANÇA EM CRISE. Em disputa com a Rússia desde 2014, quando Moscou anexou a Crimeia, a Ucrânia tenta esquecer que fez parte da União Soviética. Tanto que uma lei de 2015 proíbe símbolos soviéticos e promove a retirada de estátuas e troca de nome de ruas e cidades alusivos aos comunistas.
Ainda assim, um grande (mesmo) monumento continua de pé na capital Kiev. Com 62 metros de altura, ou 102 metros, contando com pedestal e o edifício sobre o qual ela está, é impossível não notar a escultura “Rotina-Mat” (Pátria-Mãe, em português), no Museu Nacional da História da Ucrânia na Segunda Guerra (warmuseum.kiev.ua, ingressos a 20 grívnias, ou R$ 2,50).
Erguida em 1981 em homenagem à resistência ucraniana aos avanços dos nazistas, essa figura feminina de aço inoxidável segura uma espada na mão direita, e um escudo, com a foice e o martelo, na esquerda. No escudo, fica um mirante a 91 metros de altura, aonde só se chega com guia.
GEÓRGIA: NA CASA DE STALIN. O ditador Joseph Stalin é filho da Geórgia, um país pelo qual os russos têm apreço até hoje (a água Borjomi e os vinhos georgianos são um grande sucesso). Em Gori, cidade natal do ex-líder soviético, há um Museu Estatal de Stalin (stalinmuseum.ge; ingressos a 10 laris, R$ 13). O complexo foi construído ali, no lugar onde está a casa em que ele nasceu. E inclui o vagão de trem que pertenceu ao mandatário. A coleção é grande, embora parte das peças tenha sido doada ao antigo Museu da Revolução Russa, em Moscou, hoje, Museu da História Contemporânea.
Outra relíquia soviética fica na cidade de Chiatura: um teleférico, com 17 cabines, instalado pelo governo stalinista e que funciona até hoje. São quatro linhas que conectam a parte baixa da cidade aos topos das montanhas, onde antes havia minas de manganês. As cabines enferrujadas ainda são usadas.
BIELORRÚSSIA: MUSEU AO AR LIVRE. Dizem que para ver a arquitetura soviética em sua essência, não há lugar melhor que a Bielorrússia. Prédios públicos imponentes e monumentos para os tempos gloriosos fazem parte da paisagem da capital Minsk — quase 90% da cidade, de 1067, ficou em ruínas após a Segunda Guerra, e foi reconstruída nos modelos soviéticos. A Praça da Independência (onde uma estátua de Lenin e um shopping convivem em paz) e a Avenida Praspyekt Nezavismosti são museus a céu aberto.
Ao ar livre também fica a Colina da Glória, a 21km de Minsk. No topo, a 35 metros de altura, um monumento simula baionetas apontadas para o céu, lembrando a vitória soviética sobre os nazistas (belarus.by/en). Não menos impactante é o Forte de Brest (brest-fortress.by/en/), em Brest, cujos monumentos também lembram a guerra. O mais famoso é “Coragem”, um colosso de pedra de 33 metros em que se destaca a cabeça de um militar.
PAÍSES BÁLTICOS: ESTÁTUAS E CELAS. Às margens do Mar Báltico, Lituânia, Letônia e Estônia transformaram algumas de suas lembranças do período soviético em atrações turísticas. Uma das mais famosas é Gruto Parkas, em Druskininkai (grutoparkas.lt; ingresso a € 6), na Lituânia, espécie de parque temático do antigo regime, com direito a museu e restaurante com receitas da época. Destaque para o bosque, onde estão mais de cem esculturas de líderes comunistas retiradas de lugares públicos após a independência, em 1991.
Uma delas é a de Lenin, sacada da praça que levava seu nome, na capital Vilnius, depois rebatizada de Lukiskés. Neste local ficava a sede da KGB (e, antes, da Gestapo), hoje o Museu das Vítimas do Genocídio (genocid.lt/muziejus/; ingresso a € 4), dedicado aos lituanos mortos durante as ocupações nazista e soviética. Dentro, é possível ver as celas usadas pelo serviço secreto. Fora, na fachada, placas lembram os nomes dos mortos.
Em caso de guerra nuclear, um bunker em Skalupes, na Letônia, seria o porto seguro da elite do Partido Comunista. Como ela não aconteceu, o Padomju Slepenais Bunkurs (Bunker Secreto Soviético; bunkurs.lv; o tour guiado com almoço em cantina estilo soviética custa € 8) hoje é aberto a turistas. A nove metros de profundidade, guarda ainda o aparato de sobrevivência, de maquinário a máscaras de gás. Livros de Karl Marx, mapas e bandeiras da União Soviética e um busto de Lenin completam o cenário do local.
Já em Tallinn, capital da Estônia, é possível ver como os operários viviam visitando o distrito de Lasnamägi, o mais populoso do país, repleto de conjuntos habitacionais em forma de blocos de concreto. A região costuma fazer parte dos passeios guiados especializados na herança comunista na cidade, que inclui prédios do governo, a sala de concertos Linnahall e o memorial de guerra Maarjamägi, onde também jazem estátuas de Lenin e Stalin.
NORUEGA: CIDADE-FANTASMA NO ÁRTICO. Embora a Noruega não seja uma ex-república soviétiva, a URSS chegou a ter uma base mineradora no arquipélago de Svalbard, chamada Pyramiden, hoje uma cidade-fantasma. Um ginásio, uma escola, um salão de dança e uma piscina coberta, tudo abandonado desde o início dos anos 1990, dão ideia de como viviam as pessoas naquele isolamento. Na praça central, só um busto de Lenin (“o mais setentrional do mundo”) permanece, olhando para o Ártico. É possível visitá-la em excursões a partir de Longyearbyen (a Artic Explorer cobra 2.900 coroas norueguesas, ou R$ 1.182; arcticexplorer.no).
Alemanha: marcas soviéticas visíveis em Berlim
BERLIM – Berlim, solo político, protagonista de revoluções, motins, momentos históricos, traumáticos e decisivos guarda (e às vezes exibe), feridas e cicatrizes deixadas em sua conturbada história.
As memórias e cicatrizes deixadas pelas forças militares soviéticas, por exemplo, vão muito além do Muro de Berlim. Estão visíveis, de forma literalmente monumental, no espaço físico urbano. O momento mais marcante ocorreu, no mês de julho de 1945, com a libertação da Alemanha, pelas forças soviéticas, do nacional-socialismo de Adolf Hitler.
E para que os soldados russos fossem para sempre lembrados — depois da capitulação e de a Alemanha perder sua soberania na Conferência de Potsdam, resultando na divisão de Berlim — o Exército Vermelho determinou que a cidade tivesse três monumentos de guerra em homenagem a eles, “heróis que jamais devem ser esquecidos”.
MEMORIAL DE TIERGARTEN. Dos três monumentos que remetem à história dos soviéticos em Berlim, o Memorial de Guerra Soviético em Tiergarten está localizado na maior área verde da cidade, o jardim Tiergarten, que fica pertinho do cartão de visitas da cidade — o Portão de Brandemburgo, mas precisamente beirando a Rua Strasse des 17 Juni. Dos três existentes na capital, esse é o que atrai o maior número de visitantes devido ao fácil acesso.
Em lugar de honra e de prestígio no topo da coluna central do monumento, exibe-se, austera, a estátua de bronze que homenageia o sargento Dimitri Petrenko, vulgo “O Lobo”, em alusão à sua forma implacável de matar o inimigo. Foi Dimitri um dos coautores de uma cena emblemática — a que mais marcou a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra: o fincar da bandeira soviética no teto do Palácio do Reichstag, prédio que, antes de Hitler dissolver o parlamento, funcionava como espinha dorsal da República de Weimar (1919-1933), ou seja, do governo alemão.
Na pilastra lateral do monumento, os soldados são homenageados e glorificados com o texto: “Honra eterna para os soldados que morreram lutando pela liberdade e independência da União Soviética, contra a invasão fascista alemã”.
MEMORIAL TREPTOWER PARK. No bairro de Treptow-Köpenick (leste da cidade), encontra-se outro monumento sobre a história da União Soviética e as cicatrizes que ela deixou em Berlim. Um portal austero marca a entrada do Memorial de Guerra Soviético. Seja pelo lado da área verde Treptower Park ou pela Alameda Puschkinallee.
Erguido para lembrar os milhares de soldados soviéticos mortos durante a Batalha de Berlim, o memorial guarda, sob uma linda área de grama verde, os corpos de sete mil deles. Acima, construções austeras emprestando dramaturgia e heroísmo — tanto às gravuras fincadas nas pedras de mármore paralelas ao jardim central, como a esculturas dos soldados em posição heroica, lapidadas nos muros — dão uma lição sobre as histórias da União Soviética em Berlim e, consequentemente, da Alemanha.
O concurso para a concepção do projeto do memorial, aberto em 1946, estipulava que o foco temático não deveria ser a vitória da guerra sobre a Alemanha, mas o ato heroico dos soldados na Batalha de Berlim.
Ele foi construído sob comando do arquiteto Jakow S. Belopolski, do pintor Jewgeni Wutschetitisch e da engenheira Sarra Walerius. Mas para isso foi convocado uma “unidade de elite”, digamos, composta por oficiais russos e engenheiros que trabalharam sob coordenação de empresas alemães. Em 8 de maio de 1949, o monumento foi inaugurado, exatamente quatro anos depois da capitulação alemã.
O monumento com a estátua de bronze que exibe um soldado com uma criança nos braços atrai a atenção de todos. Em suas mãos, espada e pedaços quebrados do símbolo da suástica simbolizam a derrota do nacional-socialismo. A criança seria uma metáfora para um futuro sem guerras. Segundo boatos, que atravessam gerações, as pedras de mármore da parte externa do mausoléu vieram do prédio da chancelaria do Reich, onde Hitler morou. A tese ganha força porque no pós-guerra faltava material de construção no país.
O memorial de Treptow está fora do eixo turístico. Mas merece ser visitado. Sem pressa.
MUSEU ALEMÃO-RUSSO. O Museu Alemão-Russo Berlim Karlshorst, localizado no bairro de Karlshorst, aborda a longa trilha da história de alemães e russos. E a relevância do museu já começa por suas dependências.
Em 8 de maio de 1945, com a derrota na Segunda Guerra, a Alemanha capitulava do regime nazista e perdia a sua soberania. E o prédio, em que atualmente funciona o museu, era o quartel da Wehrmacht, as forças armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich. A partir dali, entre os anos de 1945 e 1949, o local foi a sede da “administração soviética” na Alemanha.
Depois de inúmeras formas de uso, mas sempre documentando a história dos russos em Berlim, o Museu Alemão-Russo da forma que existe hoje foi inaugurado em 10 de maio 1995.
O pontapé inicial veio, depois de restaurada a soberania do estado alemão, a partir da assinatura do “Contrato 2+4” e, com esse, a retirada dos soldados russos, que até então permaneciam estacionados em Berlim Oriental. Foi então que os dois países decidiram firmar a parceria, para “uma reflexão crítica da história e da lembrança”, assim como “instigar o encontro e o entendimento entre alemães e russos”.
Para conhecer o Karlshorst é aconselhável que o visitante reserve pelo menos umas três horas, considerando que ele fica afastado do centro de Berlim. Sua diretoria, aliás, não esconde o orgulho de ter o apoio do Arquivo Federal de Moscou, que possibilita acesso a relevantes textos da época, além de toda uma sorte de documentação na forma de fotografias, filmes e áudios. Para complementar e enriquecer o acervo, o museu recebeu material particular através de doações.
A temática da exposição permanente, que foi atualizada em 2013, aborda a matança dos soldados soviéticos pela forças militares alemães, passa pela catástrofe de fome e miséria causadas pela Segunda Guerra e a morte de milhões da população civil, chegando aos dias de hoje.
Alemanha: A ponte dos espiões e de Spielberg
A Ponte Glienicker Brücke — como se vê no filme “Ponte dos espiões” (Steven Spielberg/2015) — viria a cumprir um papel-chave nos conflitos da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Tendo sua primeira versão numa estrutura de madeira, erguida em 1660 pelo nobre alemão Frederico Guilherme, sobrinho do Rei Frederico I da Prússia, a Glienicker é, desde 1990, Patrimônio Mundial da Humanidade. A ponte, na forma que se vê hoje, foi inaugurada em 1907.
Na época em que Berlim gozava do status de ilha cercada pelo Muro, negociadores dos Estados Unidos e da URSS, deixando de lado desconfianças mútuas, faziam na Glienicker a troca de agentes americanos e soviéticos. Era um lugar estratégico e perfeito para tal fim: a ponte fica exatamente na linha que separava as duas ordens mundiais — Berlim Ocidental e a cidade de Potsdam no leste da Alemanha.
Somente soldados e diplomatas dos países aliados podiam passar pelo ponto que, ao todo, foi três vezes usado para a troca de agentes, feita sempre em contexto político de grande complexidade.
Em fevereiro de 1986, três anos antes da queda do Muro de Berlim e já durante o período da política de Glasnost e Perestroika na URSS, aconteceu a terceira e última troca de agentes, sob forte cobertura midiática da parte ocidental da Alemanha — o governo da Alemanha comunista fazia vista grossa à prática.
Da história dessa última negociação nasceu o filme de Steven Spielberg, em que o ator Tom Hanks vive o advogado James Donovan, o enviado a Berlim Oriental para negociar a liberdade do espião russo Rudolf Abel, capturado em 1957 nos EUA, para, em contrapartida, conseguir a liberdade do piloto americano Gary Powers, que estava nas mãos da União Soviética.
Durante os cinco dias de filmagens, a Glienicker experimentou um “vale a pena ver de novo”: a ponte foi devidamente decorada, ganhando espírito austero e clima de suspense. E o que não faltou: um animado encontro entre Spielperg, Hanks e a chanceler Angela Merkel. (Fátima Lacerda)
Alemanha: o muro, tema que circunda Berlim
Madrugada de 13 de agosto de 1961. Soldados da Alemanha Oriental, em poucas horas, cercam Berlim Ocidental com arame farpado, dividindo a cidade e começando a erguer o que viria a ser o principal símbolo da Cortina de Ferro. O mundo estava separado por duas ideologias, e o Muro de Berlim nascia para materializar essa divisão.
Quase 30 anos depois, em novembro de 1989, a partir do movimento que tomou conta dos países do Leste da Europa com vistas à libertação das rédeas de Moscou, o Muro caía. Estava aberto o caminho para a reunificação da Alemanha, no ano seguinte.
Sem pichações, sem pinturas
Hoje, 27 anos após a queda, as partes que restam da estrutura de concreto compõem um dos principais pontos turísticos da cidade — tanto para quem se interessa, quanto para quem não se interessa pela História do comunismo no país. Há partes preservadas — e elas se espalham por diferentes pontos da capital —, sendo que o traçado do antigo Muro está demarcado nas ruas. O principal lugar para a visita é a Bernauer Strasse, onde foram empilhados os primeiros tijolos que iriam dividir Berlim.
Ali fica o Memorial do Muro de Berlim, uma extensa área verde que oferece a melhor documentação do período. Inclui partes da construção original, na forma e profundidade, sem pichações, nem pinturas. E impressiona pelo tamanho: ao longo da Bernauer Strasse, os trechos ainda intactos da estrutura de concreto dividem espaço com obras de arte, exposições de fotos, documentos e até uma capela. Prepare-se para andar bastante. O ideal é passar algumas horas caminhando por sua extensão. A visita deve ser complementada no Centro de Documentação, do outro lado da rua.
Outra opção para quem quer entender um pouco mais sobre a construção do Muro e também sobre as atrocidades cometidas contra os judeus durante a Segunda Guerra é conferir o Memorial Topografia do Terror. O local é emblemático: o endereço foi sede de organizações do regime nazista, como a Gestapo, a polícia secreta de Adolf Hitler. Vestígidos das paredes do antigo edifício ainda podem ser vistos. O lugar abrigava celas.
Um longo trecho do Muro recebe exposições temporárias. E em um pavilhão que serve como centro de documentação, há painéis de fotografia. Os visitantes podem consultar notícias da época num espaço informatizado.
Perto dali, também recebe muitos visitantes o Checkpoint Charlie — ponto de controle de fronteira que serviu de passagem entre os dois lados de Berlim durante a separação das Alemanhas.
Outra área bem visitada é o Potsdamer Platz, um dos centros comerciais mais famosos da capital. Em meio ao clima de compras, há na área uma espécie de galeria a céu aberto, com trechos do muro colocados estrategicamente no meio da rua. São como obras de arte, com pinturas e painéis explicativos.
Em outra parte da cidade — localizada a cerca de cinco quilômetros dos dois memoriais — está o trecho do Muro mais famoso, por ter se transformado em um grande painel de arte, o East Side Gallery. Com algo como um quilômetro de extensão, mais de cem artistas já deixaram sua marca por lá, atraindo turistas do mundo todo.
República Tcheca: refrigerante e relógio comunista
PRAGA – Os tchecos gostam de dizer que a Polônia levou dez anos para por fim ao comunismo; a Hungria, dez meses; a Alemanha Oriental, dez semanas; e a antiga Tchecoslováquia apenas dez dias. Mas se a Revolução de Veludo, além de rápida, foi pacífica e suave — e não à toa ganhou este nome — as lembranças da “segunda ditadura” no país (a primeira fora a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial) são bem ásperas.
Em Praga, capital da atual República Tcheca, um pequeno museu relata de forma simples e didática esse turbulento período histórico.
O MUSEU DO COMUNISMO. Não se assuste com as pequenas matrioskas fazendo caretas que são a propaganda do Muzeum Komunismu. Muito além desse e de outros clichês, que tentam fisgar o turista em meio a tantos outros atrativos da espetacular Praga, o museu apresenta objetos, fotos, filmes e muitas informações, alternadas entre contextualização histórica (os primeiros anos no pós-guerra, a Primavera de Praga, o recrudescimento e o ocaso do regime) e temática (como era a educação das crianças, o trabalho na indústria, o acesso a bens de consumo, a propaganda política, a polícia secreta etc.).
O didatismo das cenas, porém, por vezes contrasta com a falta de informações mais detalhadas sobre alguns objetos, como as estátuas de Lenin e Stalin logo na entrada do lugar, que não têm placas alusivas sobre datas de criação e de onde elas foram retiradas. O museu fica quase escondido no primeiro andar de um hotel e — nada mais irônico — ao lado de um cassino e sobre uma filial da rede McDonald’s.
MEMÓRIAS DA PRAÇA. Ali perto, vale visitar a Praça Venceslau (Václavské námestí), palco das principais manifestações políticas do país, onde ocorreram as marchas que resultaram na Revolução de Veludo em 1989 e, 30 anos antes, os protestos contra a invasão soviética após a Primavera de Praga.
Próximo à estátua equestre de São Venceslau, herói nacional, há uma pequena placa homenageando Jan Palach e Jan Zajíc, estudantes que em 1969 morreram ao atearem fogo ao corpo em protesto contra a ocupação do país por tropas da União Soviética.
Além da deslumbrante vista dos prédios históricos no entorno, não raro o turista se depara com um protesto na Praça Venceslau, como as manifestações que em maio deste ano pediam a saída do presidente Milos Zeman e do primeiro-ministro Bohuslav Sobokta, envolvidos em denúncias de corrupção e tentativa de controle da mídia.
KOFOLA X COCA-COLA. Mas se a ideia é entrar no clima de nostalgia e relembrar os anos do comunismo, nada melhor do que pedir num bar local a Kofola, refrigerante que ainda hoje é muito popular no país e o principal concorrente da Pepsi e da Coca-Cola na República Tcheca. Criado em 1959, quando os embargos econômicos impediam a entrada da “capitalista” Coca-Cola no país, a bebida lembra em muito a rival americana, mas tem leve gosto cítrico.
TRABALHADORES X APÓSTOLOS. E a 280 quilômetros de Praga, na cidade de Olomouc, uma relíquia da era comunista chama a atenção. Se na capital tcheca o Orloj, o famoso relógio astronômico, é um dos principais pontos turísticos da cidade — e multidões se aglomeram de hora em hora para ver “A Caminhada dos Apóstolos”, quando as 12 figuras dos discípulos de Cristo saem em movimento da torre para marcar as badaladas — em Olomouc a atração tem, digamos assim, uma temática mais proletária.
Em vez dos apóstolos, figuras da vida cotidiana, como um camponês, um operário, um artesão, fazem a caminhada. E, na parte inferior do relógio, um calendário marca os aniversários não de santos, mas dos líderes Lenin e Stalin. Como se o tempo, ali, estivesse congelado em outra era da nossa História.
Luciana Rodrigues viajou a convite do Escritório de Turismo da República Tcheca.
Cortina de Ferro: Passeios guiados pelo passado
Passados quase 30 anos da queda do Muro de Berlim, a tal Cortina de Ferro não encobre mais os países do Leste da Europa. Mas esse passado pode ser revisitado em tours guiados temáticos, museus e monumentos nas principais cidades de Polônia e Hungria, por exemplo.
POLÔNIA: CIDADE-MODELO. Qualquer communist tour na Cracóvia, Polônia, inclui Nowa Huta, o distrito-modelo construído para ser o símbolo de uma sociedade utópica soviética. Com ruas largas, quarteirões simétricos e arquitetura monumental, o bairro foi o ápice de aplicação urbanística do realismo socialista, a “estética oficial” da União Soviética e de seus aliados entre os anos 1920 e 1960.
Esse é o cenário dos passeios temáticos, organizado por empresas como Crazy Guides (crazyguides.com; 139 zlotys, ou R$ 123), que levam os visitantes a bordo de um autêntico Trabant, o carro popular típico da Alemanha Oriental. O passeio dura quatro horas e é cheio de histórias e curiosidades sobre a vida no bairro, iniciado em 1949 e ocupado por operários e pessoas das classes mais baixas, mão de obra para as indústrias instaladas ali, como de aço, cimento e tabaco.
Apesar do passado industrial, Nowa Huta é um dos lugares mais verdes de Cracóvia, com ruas arborizadas e muitas praças. A principal dela é a Plac Centralny, a praça central de onde saem cinco avenidas, como pontas de uma estrela. Hoje, o nome oficial, em polonês, é Plac Centralny Ronalda Reagana (sim, esse mesmo que você pensou, o ex-presidente americano). O rebatismo teria tirado imediatamente o apetite dos comensais no Stylowa, restaurante aberto em 1956 em frente à praça e que hoje tem no passado comunista seu carro-chefe. Fotos do período do antigo regime e uma estátua de Lenin decoram o espaço à moda dos anos 1970. O cardápio, com receitas típicas, segue essa linha saudosista.
Na capital Varsóvia, os passeios temáticos a bordo de vans Nysa 522 — fabricadas no país até início dos anos 1990 — têm parada obrigatória em frente ao Palácio da Cultura e Ciência, um arranha-céu de 237 metros que é uma reprodução das torres stalinistas que dominam o horizonte de Moscou. Já o Museu da Vida sob o Comunismo (czarprl.pl, 8 zlotys, ou R$ 7) mostra aspectos cotidianos na antiga República Popular da Polônia — tanto o lado leve, quanto o difícil.
Na cidade de Gdansk, o Centro Europeu Solidariedade (ecs.gda.pl, ingresso a 20 zlotys, R$ 18) serve também como museu do movimento sindical que deu início à “descomunização” da Polônia.
HUNGRIA: UM BRINDE NO BAMBI. Para ter um gostinho do período comunista na Hungria, peça um sanduíche e uma cerveja no Bambi Eszpresszó (Rua Frankel Leó 2/4, Buda), bar popular entre os moradores de Budapeste aberto nos anos 1960 e que não mudou muito desde então. Ou visite o Memento Park (mementopark.hu), lar de mais de 40 estátuas de líderes comunistas (soviéticos e húngaros) desalojadas após o fim do regime, em 1989. É para imaginar obras como “Monumento à República Soviética” espalhadas pela cidade. E a raiva da população ao derrubar uma estátua de Stalin da qual só sobraram as botas no pedestal, durante a Revolução Húngara, de 1956.
O Museu Casa do Terror (terrorhaza.hu, dois mil florins, R$ 25), que funciona e m um prédio que foi ocupado tanto por nazistas quanto por comunistas, relembra as atrocidades cometidas por ambos.
BULGÁRIA: A BORDO DO CHAIKA. Se você vir um autêntico GAZ Chaika, o carro de luxo fabricado na Rússia entre 1959 e 1981, pelas ruas de Sofia, são grandes as chances de ele estar a serviço de uma das empresas de turismo que oferecem tours temáticos pela capital da Bulgária. Uma das paradas é o Museu de Arte Socialista (nationalartgallerybg.org, 6 levs, R$ 11,6), que vai além das esculturas retiradas de praças públicas e exibe pinturas e até vídeos da época, como desenhos animados e comerciais de TV.
Outra herança do período da República Popular da Bulgária (1946-1989) é o Largo, conjunto de três prédios que foram sede do Partido Comunista e que hoje abrigam a Presidência, a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado. E ainda o Monumento ao Exército Soviético, símbolo do realismo socialista à vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra.
Créditos: O globo