Segundo pesquisadores, mulheres com os maiores níveis de gratidão apresentam risco 9% menor de morte por qualquer causa, incluindo doenças cardiovasculares, câncer e por problemas neurodegenerativos
Apreciar as pequenas coisas da vida pode ter um impacto duradouro na sua saúde. Pesquisas anteriores mostraram que sentir gratidão é benéfico para a saúde física e o bem-estar emocional. Agora, um novo estudo descobriu que aqueles que experimentam mais gratidão também têm um risco menor de morrer. Segundo especialistas, este é o primeiro relatório a examinar os efeitos da gratidão na longevidade.
Os pesquisadores usaram dados do Nurses’ Health Study, que incluiu quase 50 mil mulheres entre 69 e 96 anos que completaram um questionário de seis itens sobre gratidão em 2016. Ao pedir que as participantes classificassem o quanto concordavam com afirmações como “Tenho muito na vida pelo que ser grata” e “Sou grata a uma ampla variedade de pessoas”, a equipe de pesquisa pôde determinar o percentual de mulheres com os maiores e menores sentimentos de gratidão.
Quando os pesquisadores revisaram os dados três anos depois, descobriram que as mulheres com os maiores níveis de gratidão apresentavam um risco 9% menor de morte por qualquer causa, incluindo doenças cardiovasculares, câncer e condições neurodegenerativas, de acordo com o estudo publicado em 3 de julho na revista JAMA Psychiatry.
“A gratidão é poderosa: poderosa para a felicidade, poderosa para lidar com, pelo menos, sintomas depressivos mais leves, poderosa para melhorar a saúde, poderosa para proteger contra a morte prematura — e é algo que qualquer pessoa pode fazer”, diz o autor sênior do estudo, Tyler VanderWeele, que é o professor do instituto John L. Loeb e Frances Lehman Loeb de Epidemiologia, na Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos.
Durante os três anos de acompanhamento no estudo, houve 4.608 mortes entre as participantes — 2.153 dessas foram de mulheres que relataram experimentar a menor quantidade de gratidão, enquanto 1.273 mortes foram de mulheres que estavam no nível intermediário. Houve 1.182 mortes entre as mulheres que relataram a maior quantidade de gratidão.
O estudo também descobriu que aquelas que relataram sentir mais gratidão eram mais propensas a ser um pouco mais jovens, ter um parceiro, participar de grupos sociais ou religiosos, ou ter uma saúde geral melhor.
“Acho que coisas que estão indo bem na vida, seja a saúde ou os relacionamentos sociais de uma pessoa, vão torná-la mais grata”, explica VanderWeele, que também é diretor do Programa de Florescimento Humano, que visa estudar e promover o bem-estar humano, e codiretor da Iniciativa sobre Saúde, Espiritualidade e Religião em Harvard.
Para a análise da longevidade, os pesquisadores controlaram o grupo de dados comparando mulheres semelhantes que diferiam apenas em seus escores de gratidão, segundo VanderWeele. Os cientistas também controlaram fatores como bem-estar psicológico, problemas de saúde e outros dados demográficos, incluindo participação social e religiosa.
“Ainda é bastante significativo — mesmo depois de controlar a conexão social e outros aspectos do bem-estar psicológico e uma série de características básicas de saúde, dinheiro, renda e assim por diante — você ainda encontra aquelas que são gratas versus aquelas que não são com cerca de 10% de redução no risco de mortalidade”, afirma VanderWeele. “Essas outras coisas são importantes, mas não explicam todo o efeito da gratidão.”
Os autores observaram no estudo que as participantes eram principalmente mulheres brancas, mais velhas, nos Estados Unidos, e estudos futuros com uma amostra mais representativa seriam necessários para descobrir mais sobre os efeitos da gratidão e da longevidade para outros grupos demográficos.
Como praticar a gratidão?
“Não é completamente surpreendente para mim, dado o que sabemos sobre os benefícios para a saúde das emoções positivas de forma mais geral, que a disposição de uma pessoa para a gratidão possa realmente, até mesmo, prolongar sua vida”, afirma Philip Watkins, professor de psicologia na Universidade Eastern Washington e autor do livro “Gratitude and the Good Life: Toward a Psychology of Appreciation” (“Gratidão e a Boa Vida: Rumo a uma Psicologia da Apreciação”, em tradução livre do inglês).
Pesquisas descobriram que a gratidão beneficia a felicidade e o florescimento dos indivíduos, segundo Watkins, que não esteve envolvido no novo estudo.
Ter mais gratidão tem sido associado a melhorar a saúde física, como fortalecer o sistema imunológico, baixar a pressão arterial e beneficiar o coração. Aqueles que são mais gratos também tendem a ter uma melhor noite de sono e ter maior autoestima e níveis mais baixos de ansiedade, estresse e depressão.
Embora o novo estudo tenha examinado pessoas que são naturalmente mais gratas, existem maneiras de praticar mais gratidão no dia a dia, segundo Emiliana Simon-Thomas, diretora científica do Greater Good Science Center — um instituto de pesquisa que estuda a psicologia, sociologia e neurociência do bem-estar — na Universidade da Califórnia, Berkeley, nos EUA.
“É muito importante para cada indivíduo começar a partir de um lugar de sua própria zona de conforto”, explica Simon-Thomas, que não esteve envolvida no novo estudo. “É injusto exigir gratidão de alguém se estiver se sentindo particularmente empobrecido. Mas não é injusto apontar alguns dos fatores simples, fáceis e imediatos que são realmente uma fonte de bondade”.
“Pode ser [tão simples quanto] sentir o sol quente através de uma janela em seu ombro — é apenas uma questão de realmente notar que há coisas ao seu redor, mesmo em momentos difíceis”, acrescenta.
Existem três estratégias que Simon-Thomas recomenda para aqueles que desejam implementar mais sentimentos de gratidão. Primeiro, mantenha um diário de gratidão onde você pode escrever algumas coisas pelas quais é grato, “seja uma máquina de lavar em sua casa, ou luz elétrica, ou a oportunidade de fazer uma viagem de acampamento com amigos — a lista pode continuar”, diz.
Outra maneira de praticar a gratidão é escrevendo cartas para outras pessoas que tiveram um impacto positivo em sua vida; o senso de gratidão é ainda mais pronunciado quando essas cartas são entregues à outra pessoa, disse Simon-Thomas.
Uma terceira maneira de sentir mais gratidão é ser mais específico ao agradecer — quando alguém lhe traz um café para começar o dia, em vez de apenas dizer “Obrigado”, tente estender para algo como: “Eu realmente aprecio que você tenha me trazido um café hoje, sei que você tem muitas outras coisas para fazer… e eu consegui fazer muitas coisas, porque você me trouxe um café”, sugere Simon-Thomas.
Não há um consenso claro sobre com que frequência alguém deve praticar a gratidão, segundo Simon-Thomas. Ela recomenda experimentar diferentes métodos para ver o que é mais adequado para você.
Praticar a gratidão não é apenas fundamental para a saúde e o bem-estar, mas também é importante tentar ser mais grato porque é uma boa virtude e pode afetar positivamente seus relacionamentos, diz Watkins.
Ter mais gratidão também tem sido associado a ser mais otimista em geral, e as pessoas que expressam níveis mais altos de gratidão tendem a procurar mais o lado bom da vida, acrescenta.
“A pesquisa mostra que temos muito mais coisas boas acontecendo conosco do que coisas ruins, mas nos concentramos muito facilmente nas coisas ruins”, diz Watkins. “Acho que essa é uma das razões pelas quais a gratidão… e ser uma pessoa grata é tão importante, porque nos ajuda a ter uma visão mais equilibrada da vida.”
Fonte: CNN Brasil