Vírus tem como principal alvo células do sistema imunológico, mas tratamento consegue mantê-lo sob controle
O HIV é a sigla em inglês para o Vírus da Imunodeficiência Humana. Trata-se de um patógeno que foi identificado nos anos 80, quando começou a provocar os casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids, em humanos. Estudos posteriores identificaram que a origem provável do vírus era a circulação entre primatas em regiões do continente africano.
Segundo informações do Ministério da Saúde, o HIV pode ser transmitido pela relação sexual sem o uso de preservativo, por transfusão de sangue contaminado, da mãe que vive com o vírus para o filho durante a gestação, no parto e na amamentação e pelo compartilhamento de instrumentos utilizados por pessoas infectadas que não tenham sido esterilizados, como seringas.
No corpo humano, o HIV tem como principal alvo os linfócitos T-CD4+, células de defesa do sistema imunológico. Por isso, conforme ele se replica, o sistema de defesa do organismo vai perdendo a capacidade de responder adequadamente ao contato com outros microrganismos, como vírus e bactérias, deixando o indivíduo mais suscetível ao agravamento de doenças.
Quando essa replicação atinge esse estágio avançado, em que a contagem de células T-CD4+ fica extremamente baixa, é que se diagnostica a síndrome da Aids. Existe, no entanto, tratamento para pessoas que vivem com HIV com comprimidos antivirais, que atacam o vírus para impedir a sua replicação. A estratégia consegue manter o HIV sob controle e impedir a evolução para a Aids.
Existe cura para o HIV?
Não existe cura hoje para o HIV. O que faz com que os antivirais não eliminem a infecção por completo é algo chamado de persistência viral. Isso porque os medicamentos alcançam apenas os vírus ativos em replicação no organismo, porém o HIV tem uma característica de permanecer “adormecido” em determinadas regiões do corpo humano.
— Mesmo com o tratamento atual, o vírus permanece em partes do corpo em estado de latência, como uma espécie de dormência. Então toda vez que você remove a terapia antirretroviral, mais cedo ou mais tarde esses vírus que estão dormindo acordam e voltam a se replicar, e a infecção reaparece — explicou o imunologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jorge Andrade Pinto, em matéria do GLOBO sobre o tema.
Esse processo de os vírus “acordarem” acontece naturalmente, porém demoraria cerca de 80 anos para todos despertarem, e os antivirais conseguirem eliminá-los por completo. Ainda assim, o cenário hoje para as pessoas que vivem com HIV é completamente diferente daquele dos anos 80 e 90, quando o vírus foi inicialmente detectado em humanos e seu diagnóstico era quase uma sentença de morte.
Segundo os dados da Unaids, em 2023, eram 39,9 milhões de pessoas vivendo com o vírus, e foram registradas 630 mil mortes relacionadas à Aids. Embora seja um número alto, é uma queda considerável em comparação com os 2 milhões de óbitos que eram registrados a cada ano no início do século.
No Brasil, em 1996, por exemplo, chegaram a ser registradas quase 30 mil mortes associadas ao HIV, de acordo com a Unaids. Porém nos últimos anos, esse número permanece abaixo de 15 mil óbitos ao ano. Em todo o mundo, desde o início da epidemia, 42,3 milhões de vidas foram perdidas para a doença.
Indetectável = intransmissível
Além de evitar a Aids, o tratamento contínuo com os antivirais consegue manter a carga viral do HIV em níveis extremamente baixos no corpo humano. E nesse estágio, em que o vírus é considerado até mesmo indetectável, há hoje um consenso, reforçado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que o indivíduo passa a ser também intransmissível.
Isso quer dizer que pessoas que vivem com HIV e aderem corretamente ao tratamento vivem uma vida saudável e alcançam níveis de controle da infecção que as levam a nem mesmo serem capazes de disseminar o vírus para outros indivíduos.
Existem casos de cura do HIV?
Ainda que a cura não seja uma alternativa possível hoje, existem alguns casos que já foram registrados de pacientes que eliminaram o HIV. Todos alcançaram o feito após um transplante de medula óssea, que foi realizado não por causa do vírus, mas pelo fato de terem outra doença, um câncer hematológico.
Na hora de buscarem o doador, os médicos buscaram alguém que tivesse uma mutação genética chamada de CCR5Δ32/Δ32. Ela faz com que a pessoa não produza uma proteína chamada CCR5, que é justamente o receptor que fica na superfície das células T-CD4+ do sistema imunológico e que atua como uma espécie de fechadura por onde o HIV entra.
Por isso, naqueles com a mutação, e consequentemente sem o receptor, as células se tornam resistentes à infecção, interrompendo a replicação do HIV no organismo e eventualmente o eliminando por completo.
Os procedimentos, no entanto, não são uma alternativa que será oferecida a todos que vivem com HIV em larga escala, já que o transplante tem uma série de riscos (superiores aos de viver com o vírus em tratamento), nem sempre funciona e há um número escasso de doadores, especialmente que carreguem essa alteração específica no DNA.
Quais os sintomas do HIV?
Segundo o Ministério da Saúde, após a infecção pelo HIV, ocorre um período de incubação até os primeiros sinais, que pode levar de três a seis semanas. No entanto, esses sinais são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar, por isso a maioria dos casos passa despercebida.
Na fase seguinte da contaminação, o vírus começa a se estabelecer no organismo, mas muitas vezes ainda não de forma suficiente para permitir novas doenças de forma significativa. Por isso, esse estágio é considerado ainda assintomático, e pode durar anos.
Apenas depois, quando os linfócitos começam a deixar de funcionar de forma eficiente devido à infecção que o indivíduo passa a apresentar sinais mais claros, comofebre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento, que acendem o alerta.
“A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a Aids. Quem chega a essa fase, por não saber da sua infecção ou não seguir o tratamento indicado pela equipe de saúde, pode sofrer de hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer”, diz a pasta da Saúde.
Por isso, o ministério reforça a importância de pessoas que possam ter sido expostas ao HIV, como após o sexo sem preservativo, buscarem unidades de saúde para a testagem. Se essa procura for em até 72 horas após a exposição, é possível ainda realizar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), uma estratégia com antivirais que impede que o vírus se estabeleça no organismo, ou seja, evita a infecção.
Fonte: Globo.com