Meu primeiro mochilão na América do Sul foi em 2011. Naquela época, eu nem sequer imaginava tudo o que o nosso continente tem a oferecer. Inclusive, pensei que seria apenas mais uma viagem de férias, e que depois disso eu dificilmente voltaria a viajar para outros destinos sul-americanos que não fosse o Brasil.
Grande engano. Durante a primeira viagem fui fisgado não apenas pelo tal bichinho do viajante, mas por um bichinho que habla castellano e escucha reggaeton. Mal havia terminado minha primeira trip e já estava planejando outra viagem por estas bandas.
Consequentemente, depois de entender que nosso território é privilegiado com milhares de paisagens, sabores e aventuras que justificam mais de duas ou três férias, continuei obcecado por fazer mochilão na América do Sul. E, para que você também conheça e se apaixone por essa imensidão, neste post eu te darei 10 dicas que te ajudarão no planejamento da sua trip.
1- Documentos necessários
Se seu mochilão na América do Sul incluir a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai ou Venezuela, você pode usar o passaporte ou a nossa carteira de identidade (RG) como documento para migração para viagens a turismo por até 90 dias.
Mas atenção, é importante que o documento esteja em bom estado de conservação e que você seja facilmente reconhecido na foto do documento.
Já no caso de mochilões para Suriname, Guiana ou Guiana Francesa, você precisará de um passaporte com validade mínima de seis meses a partir do inicio da viagem.
Além disso, outro documento obrigatório para alguns países é o Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia Contra a Febre Amarela, que é emitido gratuitamente pela Anvisa. Atualmente, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Suriname fazem essa exigência. Porém, é sempre bom consultar possíveis mudanças no Portal Consular.
2- Quando ir
Devido as proporções do nosso continente, não dá pra generalizar e falar sobre uma única melhor época para fazer um mochilão na América do Sul. Tudo vai depender de quais regiões você quer visitar, e de quais atividades pretende fazer no destino.
Durante o nosso verão, de dezembro a meados de abril, é a alta temporada e boa época para viajar para Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Venezuela, Guianas e Suriname. Já na Bolívia e Peru estes são os meses mais chuvosos e, portanto, baixa temporada.
Maio, junho, julho e agosto são os meses mais concorridos pelos territórios bolivianos e peruanos. Além de claro, começar a temporada de neve em destinos como Santiago e Bariloche – normalmente a partir da segunda quinzena de junho. Esses meses também podem ser uma boa pedida para quem pretende viajar a Colômbia e ao Equador, já que por lá esta é uma estação intermediária e sem grandes prejuízos por conta de chuvas.
Em outubro e novembro deve-se evitar Colômbia, Equador, Guianas e Suriname. Por outro lado, a Patagônia e o Atacama começam a ter um clima mais agradável e não estão superlotados como na alta temporada.
3- Os principais destinos para um mochilão na América do Sul
Se você sentir falta de algum destino neste tópico não se preocupe, pois isso não quer dizer que não vale a pena visita-lo. A questão é que resumir os melhores destinos para um mochilão na América do Sul é extremamente complicado por conta de milhares de possibilidades que existem por aqui. Portanto, considere os lugares que serão mencionados como àqueles mais visitados em cada país.
Na Argentina, Buenos Aires é o clichê perfeito para uma primeira viagem internacional que pode ficar ainda melhor se você incluir outros destinos argentinos no roteiro. Na Patagônia, o trio calafrio é formado por Ushuaia, El Calafate e El Chaltén. Na Região dos Lagos, Bariloche, Villa la Angostura e San Martin de los Andes são os destaques. No centro e noroeste do país, vale a pena dedicar um tempo a Mendoza e Salta, respectivamente.
No território boliviano La Paz, Copacabana – as margens do lago Titicaca – e o Salar de Uyuni compõem um roteiro basicão pelo país.
O Chile, assim como a Argentina, possui destinos de sobra para incluir num mochilão na América do Sul. A capital Santiago já se tornou há algum tempo uma das queridinhas entres os brasileiros. Abaixo da capital, rumo ao sul do país, Pucón, Puerto Montt, Chiloé e Torres del Paine costumam encantar os viajantes. Já no extremo norte quem reina é o Deserto do Atacama.
Para conhecer os principais destinos colombianos, faça um roteiro que inclua ao menos Bogotá, Medellín, Santa Marta, Cartagena e a icônica ilha de San Andrés. Para mergulhar de vez na cultura colombiana, reserve alguns dias extras para visitar também as vilazinhas do Eje Cafetero (como Salento), e a capital mundial da salsa: Cali.
Em terras equatorianas os destinos que não podem faltar no seu mochilão na América do Sul, são: a capital Quito, a Laguna Quilotoa, o Vulcão Cotopaxi, o Mercado de Otavalo, a histórica Cuenca, a selvagem Baños e claro, a exuberante (e cara) Ilha de Galápagos.
No Paraguai, destino pouco visitado turisticamente pelos brasileiros, Ciudad del Leste é o paraíso e o purgatório das compras. A capital Assunção revela algumas surpresas mas não tem o encanto de outras metrópoles sul americanas. Já a grande revelação costuma ser as ruínas das missões jesuíticas na América Latina, como as que estão na cidade de Trinidad. Além disso, o país ainda oferece alguns destinos com natureza privilegiada, como a Eco Reserva Mbatoví e o Lago Ypacaraí.
Caso o Peru faça parte do seu mochilão na América do Sul, pode apostar que vão ter muitos destinos além de Cusco e Machu Picchu. A histórica Arequipa, além de por si só já valer a viagem, é a porta de entrada para o Cañon del Colca. Famosíssima por conta de sua gastronomia, Lima pode ser uma boa pedida para dois dias numa cidade grande. Porém, se você está em busca de paisagens naturais ou trilhas, inclua no seu roteiro o passeio até a Montanha Vinicunca, o Parque Nacional de Huascarán, as dunas de Huacachina e as lendárias Linhas de Nazca.
Num mochilão pelo Uruguai, um roteiro clássico passa ao menos por Montevidéu, Colonia del Sacramento e Punta del Leste. Com mais tempo, dá pra incluir destinos mais afastados como Cabo Polonio e Punta del Diablo.
Na Venezuela, o trio de destaque é Salto Angel, Los Roques e Monte Roraima.
4- Quantos dias
Assim como em outros destinos, a quantidade de dias ideal para um mochilão na América do Sul depende de quais lugares você quer conhecer e de quanto está disposto a gastar. Ou partindo da outra direção, você pode perfeitamente organizar uma viagem de acordo com o seu tempo disponível.
Importante, no entanto, tomar cuidado para não fazer da sua viagem uma maratona. Além de calcular adequadamente o tempo que irá gastar com os deslocamentos, é preciso se atentar que certos destinos possuem uma altitude elevada, e é necessário alguns dias para nosso corpo se acostumar a esta condição. Ou seja, não podemos achar que vamos a La Paz, por exemplo, e que logo no primeiro dia teremos uma programação intensa e que nos exija muito esforço físico.
5- Roteiros de mochilão na América do Sul
Antes de qualquer coisa, vale informar que um roteiro de mochilão na América do Sul não necessariamente precisa incluir mais de um país. É claro que combinar destinos é perfeitamente viável, no entanto, saiba é possível dedicar uma viagem inteira de vinte ou até mesmo trinta dias num único país, principalmente se for para a Argentina, Chile, Peru ou Colômbia.
Em todo caso, se você quer fazer um itinerário para vários países, opte por organizar um roteiro entre cidades que sejam relativamente próximas uma das outras, e que não complique demais sua logística.
Algumas rotas clássicas pela América do Sul, são: Uruguai e Argentina, Argentina e Chile, Bolívia e Peru, além de Colômbia e Equador.
6- Como se locomover
Basicamente de ônibus e avião, já que a América do Sul não oferece grandes linhas para transporte ferroviário.
Caso prefira fazer todos os deslocamentos voando, comprar uma passagem aérea múltiplos destinos pode ajudar a otimizar seu roteiro e a economizar.
De ônibus, é importante verificar as distâncias a serem percorrida, frequência das linhas, se há ônibus direto entre as cidades que você pretende se locomover e quais as condições das estradas e dos ônibus.
De um modo geral, podemos dizer que Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai oferecem uma excelente estrutura na estrada.
Na Bolívia e Peru é comum ter ônibus em péssimo estado de conservação, algumas empresas atrasam e nem todas as estradas são boas. No entanto, estando disposto investir mais recursos ($$$) é possível encontrar empresas que oferecem melhores veículos e atendimento.
Na Colômbia, o maior problema de se locomover de ônibus é que alguns deslocamentos podem exigir muitas horas na estrada. Porém, entre as grandes cidades os veículos são confortáveis e há várias saídas ao longo do dia. Já para chegar a destinos no interior do país, alguns percursos são feitos de van.
No Equador as passagens de ônibus custam uma pechincha, mas é preciso paciência com as paradas constantes para pegar outros passageiros na estrada.
Para não ficar na mão, apesar de em muitos lugares ser possível comprar a passagem de ônibus poucas horas antes da partida, o ideal é que você se informe sobre a sua rota especifica e, se for o caso, comprar com alguns dias de antecedência.
7- Câmbio
A única certeza sobre câmbio num mochilão na América do Sul, é: não compre as moedas dos países que irá visitar no Brasil. Com exceção do Equador, que utiliza o dólar americano como dinheiro oficial, comprar a moeda dos demais países em território brasileiro será um péssimo negócio.
Já entre levar real ou dólar, normalmente o dólar costuma ter uma cotação mais vantajosa quando formos troca-lo no destino final. Principalmente em lugares muito turísticos, como o Atacama e a Patagônia. Ainda assim, o ideal é que você faça as contas utilizando as cotações da época da sua viagem.
Por outro lado, se a viagem é de até uma semana para apenas uma capital como Buenos Aires, Montevidéu ou Santiago, eu costumo levar reais. Isso porque, como a concorrência entre as casas de câmbio de grandes cidades costuma ser maior, as conversões para o dinheiro brasileiro tendem a ser favoráveis.
Além de dinheiro em espécie outras formas de levar suas verdinhas é com um cartão pré-pago do tipo Visa Travel Money, ou um cartão de crédito tradicional. Lembrando, porém, que este último além da taxa de 6,38% de IOF, não é tão usado quanto no Brasil. Antes de consumir algum produto ou serviço, é sempre bom se informar se o estabelecimento aceita esta forma de pagamento.
8- Segurança
Já vivemos na América do Sul e no país com as taxas de violência urbana mais assustadora do continente. Porém, isso não significa que você não deva estar atento quando for a outros países. Afinal, aproveitadores de turistas desinformados estão por todas as partes.
Furtos de carteiras, celulares e câmeras fotográficas são os problemas mais comuns enfrentados pelos viajantes. Não importa se você está em Santiago, Cartagena ou La Paz, é importantíssimo que você não fique de bobeira com seus pertences de valor. Principalmente em locais onde há aglomeração de pessoas.
Além disso, em viagens noturnas de ônibus eu sempre fecho minha mochila de mão com cadeado, e a ponho ao lado dos meus pés ao invés de coloca-la no compartimento superior de dentro do veículo.
Outra informação que eu trago com grande tristeza e que as mulheres já devem imaginar é que sim, a América do Sul é predominantemente machista. Não sou a pessoa mais adequada para dar alguma recomendação sobre este assunto pois nunca sofri nenhum tipo de assédio. Porém, conversando com algumas colegas elas me contaram que em países menos desenvolvidos, como na Bolívia e Peru, o comportamento machista é ainda mais presente.
Como? Desde perguntas do tipo “Mas você é tão linda e viajando sozinha?” e “Onde está o seu namorado?”, a “convites para jantar”.
Por fim, se te deixa mais seguro saber, já viajei por mais de quinze países latino-americanos, incluindo alguns dos mais perigosos segundo a imprensa tradicional, como El Salvador e Honduras, e nunca tive NENHUM problema relacionado com minha segurança física e nem mesmo de furto.
9- Portunhol
Fazer um mochilão na América do Sul é uma ótima oportunidade para praticarmos o bom e velho portunhol. Ou ainda, se você já tiver passado da fase “Pagar con cartón”, poderá aprimorar o seu castelhano.
Apesar de ser perfeitamente possível viajar pela América do Sul sem nunca ter ouvido ou falado uma única palavra em espanhol, suas férias serão mais práticas se você ao menos tentar se comunicar no idioma local.
Para isso, escute músicas e leia textos em espanhol antes da viagem. Obviamente você não terá a comunicação de alguém que já tenha estudado o idioma, no entanto, essa pequena familiarização com a outra língua já deixa os diálogos menos penoso.
Lembrando é claro, que uma dose de paciência e bom humor são fundamentais para não deixar um possível desentendimento linguístico te aborrecer.
10- Comes e bebes
Mesmo que muitos ingredientes utilizados na culinária dos nossos vizinhos sul americanos sejam parecidos com o que utilizamos no Brasil, nem por isso deixamos de nos surpreender com os sabores latinos. Em cada destino você encontrará especialidades e hábitos gastronômicos típicos daquela região que, consequentemente, acabam se tornando uma referência daquele lugar. Você se dará conta que quando o assunto é comida, muitos clichês acabam se confirmando.
Na Argentina e no Uruguai as carnes e vinhos não são famosos em vão. Quem aprecia essa combinação, de fato ficará muito contente por lá. As empanadas, as medialunas, os alfajores e o doce de leite são outras iguarias amplamente consumidas nos dois países. Quem gosta de sanduiches poderá provar um verdadeiro choripán argentino, ou um chivito uruguaio. Outro detalhe que vale lembrar é que arroz e feijão não farão parte da sua dieta.
Outro país reconhecido internacionalmente pelo vinho de excelente qualidade é o Chile. Que por sinal, combina muito bem com outro alimento muito consumido por lá: os frutos do mar. É o lugar para se esbaldar com salmão, congrio, curanto, mariscal e ceviche. Outros pratos tradicionais são a cazuela (sopa), e o pastel de choclo (uma espécie de escondidinho feito com creme de milho). Para tomar, além do vinho vale experimentar o mote con huesillos e o terremoto.
Já a culinária peruana, elogiada no mundo inteiro, faz jus a fama que tem. O ceviche é o carro chefe nacional, porém, os sabores neste país vão muito além de uma única iguaria. O lomo saltado, embora não seja muito surpreendente para os brasileiros, é muito saboroso e amplamente consumido. Outros pratos a serem provados, são: ají de gallina, causa rellena, rocoto relleno e o cuy, este último algo parecido com um porquinho-da-Índia. No setor para maiores de dezoito anos, sair sem provar um Pisco Sour é uma baita desfeita.
Na Bolívia, assim como em outras regiões andinas, as zilhões de variedades de batatas estão sempre à mesa. As empanadas, também muito consumida em outros países, sofreram uma pequena modificação em terras bolivianas e recebem o nome de saltenha. O pique macho, o majao e a truta, também são pratos típicos deste país.
A arepa e suas diversas variações estão no dia a dia de praticamente todo colombiano e venezuelano. Assim como o patacón, uma massa frita feita com banana verde. Tomar sopa é outra tradição na Colômbia. Em qualquer menu executivo você receberá uma porção de caldo como entrada. Ou ainda, poderá prová-las como prato principal, basta pedir os reforçados ajiaco ou sancocho. Já para matar a saudade do nosso arroz com feijão, uma bandeja paisa pode ser a saída. Para beber, não deixe de experimentar os sucos de lulo, zapote, limonada de coco, e claro, o famoso café colombiano.
Ao norte do continente, no Suriname e na Guiana, talvez esteja a maior surpresa culinária da América do Sul. Sabores de diversos lugares mundo se misturam com os ingredientes latinos, e formam um fervilhante caldeirão cultural. Espere encontrar forte influência da gastronomia indiana e oriental nesta região.
Fonte: Volto Logo