Estudo mostra que interrupção temporária da terapia hormonal para engravidar não aumenta os risco de recidiva do câncer de mama
O tratamento do câncer pode ser um caminho longo, que se estende por mais de uma década quando envolve terapias hormonais para evitar a recidiva do tumor. Para as mulheres que sonham em engravidar e descobrem o câncer de mama depois dos 35 anos, este pode ser um momento decisivo para a fertilidade.
Um estudo internacional, liderado por uma cientista da Harvard Medical School e Dana–Farber Cancer Institute, ambos nos Estados Unidos, foi publicado em 4 de maio no The New England Journal of Medicine e traz uma nova esperança para essas pacientes. Os pesquisadores afirmam que a interrupção temporária da terapia endócrina para tentar uma gestação é segura, e não aumenta o risco do retorno da doença.
É a primeira vez que um estudo avalia a possibilidade de interrupção da terapia hormonal para pacientes tentarem a gestação. “Esse é um grande estresse para as mulheres com câncer de mama que estão em terapia endócrina. Muitas têm medo que o tumor retorne e isso nunca tinha sido avaliado de uma maneira direta”, afirma o oncologista Gustavo Fernandes, que não esteve envolvido na pesquisa.
O médico e diretor nacional de Oncologia na Rede DASA vê um futuro promissor para a abordagem do tratamento do câncer de mama. Segundo Fernandes, a gestação é um fenômeno muito desafiador para o sistema endócrino e que poderia influenciar no tumor. Por isso, sempre foi um medo dos médicos e das pacientes.
Terapia endócrina
A terapia endócrina é um tratamento anti-hormonal que reduz a ação do estrógeno no corpo da mulher, diminuindo o risco de recorrência do tumor. Ela é indicada para pacientes com câncer de mama com receptor de estrógeno positivo. Embora alguns protocolos admitam um protocolo de três anos, o tempo habitual varia entre cinco e dez anos.
Até então, era indicado que as pacientes aguardassem pelo fim da terapia endócrina para tentar uma gestação. Assim, mulheres que iniciassem o procedimento aos 35 anos deveriam esperar até os 40 ou 45 anos para tentar engravidar, inviabilizando a maternidade para algumas.
Estudo
O estudo foi focado em mulheres em idade reprodutiva – com até 42 anos – e histórico de tumor de mama de estágio um, dois ou três (entre precoce e avançado). Elas haviam recebido a terapia endócrina por um período de 18 a 30 meses (entre um ano e meio e dois anos e meio) e puderam interromper o tratamento para tentar gestar.
Entre as 497 mulheres acompanhadas, 368 (74%) tiveram pelo menos uma gravidez. Ao todo, nasceram 365 bebês. Em três anos, a incidência de eventos de câncer de mama foi de 8,9% entre as que interromperam o tratamento e 9,2% no grupo de controle.
Ficou constatado que a pausa no tratamento não aumentou o risco de o câncer voltar em curto prazo, em comparação às mulheres que não interromperam a terapia. Os médicos destacam a necessidade de acompanhamento das pacientes a longo prazo para informar a segurança da abordagem.
“Esses resultados abrem uma janela clara, confortável e baseada em evidência para que mulheres jovens com diagnóstico de câncer de mama, em tratamento complementar, possam interromper o tratamento e tentar gestar. Preenche uma lacuna incrível na literatura médica, traz muita segurança para o cuidado e uma possibilidade de realizar um sonho importante para a vida de muitas mulheres”, afirma Fernandes.
Fonte: Metrópoles